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domingo, 15 de dezembro de 2013

Sugestão para uma visita ao Bairro Alto




A área que actualmente constitui o Bairro Alto foi-se estabelecendo entre os séculos XV e XVII, através da formação de um conjunto de aglomerados urbanos, podendo considerar-se "a primeira urbanização moderna de Lisboa" (TEIXEIRA, Manuel, VALLA, Margarida, 1999, p.90). 





Bairro Alto - Rua do Século: chafariz no largo fronteiro ao Palácio do Marquês de Pombal.



Uma das primeiras áreas do futuro Bairro Alto era a Vila Nova de Andrade, construída em meados do século XV nas antigas propriedades do cirurgião judeu Guedelha Palaçano, (conhecido o local como a quinta do judeu), situadas entre o aglomerado urbano de Cata-que-Farás e a porta de Santa Catarina.
No reinado de D. Manuel assistiu-se ao crescimento populacional e urbanístico da capital, devido à expansão do comércio marítimo. O monarca estabeleceu então um conjunto de regras urbanísticas e arquitectónicas, que se estenderam a toda a cidade.

Ao longo da primeira metade do século XVI, a Vila Nova de Andrade foi crescendo em número de arruamentos e habitantes, de acordo com as directrizes régias, e em meados da centúria iniciou-se uma nova fase de urbanização da zona alta. A Estrada de Santos, que ligava o Loreto, pela zona do Combro, ao Poço dos Negros, marca a divisão destas duas zonas, e em 1553 a instalação dos Jesuítas em São Roque, originou a deslocação do centro do bairro da antiga Vila Nova de Andrade para o novo Bairro Alto de São Roque. Assim, a partir da segunda metade do século XVI, e até ao final do século XVII, assiste-se a "uma fase de urbanização polarizada pela acção cultural dos Jesuítas" (CARITA, Hélder, 1994, p.25).





 Bairro Alto - Rua da Atalaia.



O século XVII será o período de consolidação urbanística, arquitectónica e social do bairro, que se tornou uma malha ortogonal regular "em que os quarteirões, embora todos rectangulares, têm proporções e dimensões diferentes conforme se situam abaixo ou acima da antiga estrada de Santos" (TEIXEIRA, Manuel, VALLA, Margarida, 1999, p.91). 





Bairro Alto - Rua da Academia das Ciências.



Os palacetes e casas senhoriais construídos na época, segundo padrões arquitectónicos eruditos, adaptaram-se tanto à fisionomia das ruas como à tipologia vernácula das habitações já existentes, dando origem a um conjunto arquitectónico harmonioso.
Embora o terramoto de 1 de Novembro de 1755 tenha destruído a zona baixa da cidade, o Bairro Alto foi poupado na maior parte da sua área. Desta forma, o traçado do bairro permaneceu inalterado durante a grande reforma urbanística do período pombalino, embora muitos dos edifícios quinhentistas tenham sido substituídos.
Durante as últimas décadas do século XVIII, o Bairro Alto foi perdendo o seu carácter aristocrático, e embora voltasse a ser habitado por grupos mais populares, acabou por se tornar um dos centros da cidade de Lisboa.
A partir do século XIX, com o crescimento da cidade, foram os limites do Bairro Alto que se renovaram; o estabelecimento de aglomerados urbanos adjacentes levou a que o bairro se fechasse sobre si, afastado tanto das constantes renovações urbanísticas de que a cidade foi objecto ao longo dos séculos XIX e XX, como das transformações estilísticas ao nível da arquitectura.
Desde então, as casas e antigos palacetes do Bairro Alto passaram a hospedar artistas, intelectuais, redacções de vários jornais e estruturas de apoio social e médico, tornando-se também o centro da vida nocturna da cidade.
Desta forma, o Bairro Alto manteve intacta a estrutura urbana quinhentista, resistindo a quatro séculos de transformações urbanísticas da capital, e revelando na sua malha ortogonal os ideais das cidades renascentistas, ao qual se adaptaram os edifícios construídos nos dois séculos seguintes.




de Catarina Oliveira 



Via: GIF(IPPAR(actual IGESPAR) Junho de 2005
Fotos - IGESPAR