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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Encontrada em Silves a mais antiga evidência arqueológica judaica da Península Ibérica 





Foto - Universidade de Jena
 

 Uma nota de imprensa da Universidade de Jena, Alemanha, descreve como sensacional a descoberta de uma placa de mármore com inscrição realizada por arqueólogos daquela universidade num sítio arqueológico do sul de Portugal. 
 

Uma placa de mármore, medindo 40 por 60 centímetros, e com uma inscrição que contém o nome "Yehiel", foi exumada na escavação arqueológica que uma equipa de investigadores alemães da universidade de Jena, Alemanha, está a realizar numa villa romana perto da aldeia de São Bartolomeu de Messines, em Silves. 



Os arqueólogos de Jena acreditam que esta placa possa ser uma laje de sepultura que surgiu em contextos estratigráficos que por associação poderão ser datados do ano 390 dC. "O material orgânico recolhido nestes contextos foi datado por análises de radiocarbono e aproxima-se do ano 390 dC," referiu Dennis Graen da Universidade de Jena e coordenador científico desta intervenção arqueológica. 


Esta é, segundo os investigadores deste arqueossítio, a mais antiga evidência arqueológica de habitantes judeus em Portugal. Desde há três anos que a equipe da Universidade de Jena está a escavar esta villa romana em Portugal, descoberta pela primeira vez por Jorge Correia, arqueólogo do conselho de Silves, durante uma prospecção arqueológica perto da aldeia de São Bartolomeu de Messines (Silves). 


O projecto de investigação lançado pelos alemães tem como principal objectivo perceber como é que os habitantes do interior da província romana da Lusitânia viviam. Mas esta nova descoberta vem dar aso a novas discussões. "Estávamos à espera que fosse uma inscrição em latim quando se virou a laje do túmulo escavado", disse Henning Wabersich, um membro da equipa do projecto de investigação, “mas afinal surgiu-nos uma inscrição em hebraico", disse.



Só depois de uma longa pesquisa dos arqueólogos de Jena é que se descobriu que tipo de inscrição era. "Enquanto estávamos à procura de especialistas que nos pudessem ajudar a decifrar a epígrafe, a pista crucial veio da Espanha", afirmou Dennis Graen. 


Jordi Casanovas Miró do Museu Nacional de Arte de Catalunha, em Barcelona, um conhecido especialista em inscrições hebraicas da Península Ibérica, deu como certo ser " Yehiel “ um nome judaico que já é mencionado na Bíblia. Não só é só a data que é excepcional neste caso, mas também o lugar da descoberta. Nunca antes deste achado foram descobertas evidências judaicas dentro de uma villa romana, explica o arqueólogo de Jena. Durante o Império Romano normalmente os judeus escreviam em latim, porque temiam medidas opressivas ou represálias. O Hebraico, como a inscrição descoberta na placa de mármore, só voltaria a ser usado após o declínio da supremacia romana, nomeadamente, no momento seguinte da migração dos povos do século VI e VII. 


"Nós ficamos muito surpresos ao encontrar vestígios de convivência entre judeus e romanos numa área rural. Sempre partimos do pressuposto de que isso teria sido muito mais provável numa cidade", diz Dennis Graen. As informações sobre a população judaica na região foram principalmente transmitida pelas escrituras ". 


Durante o concílio eclesiástico na cidade espanhola de Elvira,  realizado no ano 300, regras de conduta e regulamentação entre entre judeus e cristãos foram emitidos. Isto indica que já nessa altura deve ter havido um número relativamente grande de judeus na Península Ibérica ", explica Dennis Graen. Mas faltavam ainda evidências arqueológicas. 


Neste verão, os arqueólogos Jena voltam a São Bartolomeu de Messines . Até agora eles escavaram 160 metros quadrados de uma casa, mas depois de ter sido diagnosticada toda aquela área, já ficou claro que a maior parte do recinto está ainda coberto com o solo. "Nós queremos saber mais sobre as pessoas que viveram neste sítio e resolver algumas questões relacionadas com a problematização que a inscrição em hebraico veio colocar", concluiu Dennis Graen .





Fonte: Universidade de Jena - Alemanha



Publicado Sexta-feira, 25 de Maio de 2012 | Por: Jornal de Arqueologia