Mas dizem os meus motejadores: Que poderias tu, se és um só, contra tantos? Só deploro ser esmagado pelo número, contudo esses vossos pensamentos e palavras ainda mais refervem meu interior e bradar que é impiedade ter piedade de ímpios, soberbos, contumazes e obstinados. Vencerei-os pela argumentação.
Uriel da Costa
Uriel da Costa nasceu na cidade do Porto no ano de 1585, e morreu em Amesterdão, em 1640.
Filho de “conversos”, foi baptizado como Gabriel da Costa, tendo recebido desde muito cedo uma educação esmerada e bastante religiosa.
Em 1600 matriculou-se na prestigiada Universidade de Coimbra para estudar direito canónico, que acabou por deixar em 1601, sete anos mais tarde abandona a universidade.
Tendo plena noção das suas origens judaicas, Gabriel vivia em permanente luta interior como pessoa e como cristão, colocando muitas vezes em dúvida os dogmas da fé católica. Ainda em Portugal opta por estudar o Antigo Testamento e regressa secretamente aos ritos do judaísmo.
Vende a sua casa paterna e parte com a mãe e os seus cinco irmãos num navio para o “refúgio” dos conversos portugueses, que era na altura a Holanda, em Abril de 1615. Naquele país do norte da Europa faz a circuncisão e muda o nome para Uriel da Costa, passando a frequentar a sinagoga portuguesa de Amesterdão.
Sinagoga de Amesterdão
Seu espírito inquieto depressa entrou em conflito com as autoridades da congregação sefardita, e num processo cada vez mais extremado de ambas as partes, motivado pelos seus textos, o que originou a crítica severa dos rabinos locais (não esquecer que o próprio Uriel chegou a ser acusado de ateu) é excomungado da cidade de Amesterdão e considerado herege em Veneza e Hamburgo.
“Uriel da Costa com o jovem Baruch Espinoza”, de Samuel Hirszenberg, 1908.
Corria o ano de 1624 quando foi preso e posteriormente libertado.
Em 1628 morre sua mãe, Sara da Costa, talvez a sua maior apoiante e amiga nos momentos mais difíceis para o pensador português.
Neste cenário de conflito e de incompreensão, Uriel da Costa acabou por ficar cada vez mais só, vivendo em condições degradantes e de enorme pobreza.
Comete o suicídio em 1640, após ter sido humilhado perante os seus correligionários na sinagoga. Tinha então 55 anos de idade.
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