(31 de Julho de 1919)
Nasce Primo Levi. Romancista italiano que relatará nos seus livros a sua experiência como prisioneiro judeu no campo de Auschwitz.
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É minha intenção primordial fazer deste blog um repositório das tradições, costumes, factos e curiosidades sobre os judeus sefarditas em Portugal, e consequentemente também da restante Península Ibérica. Honremos sem complexos ou temores de qualquer ordem o nosso passado, para assim melhor conhecermos o presente e o nosso futuro, como pessoas e como nação.
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domingo, 31 de julho de 2011
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Museu Luso-Hebraico Abraão Zacuto (sinagoga)
Instalado na sinagoga, situada na antiga Judiaria de Tomar, este é o único templo hebraico medieval do país.
Rua Dr. Joaquim Jacinto, 73
2300–577 Tomar
Tel: 00351 249322427
Horário: 10h-13h /14h-18h
Julho a Setembro: 10h-13h/14h-19h
Entrada gratuita
Mandado erigir pelo Infante D.Henrique, como agradecimento pela ajuda prestada pela comunidade judaica durante o período dos Descobrimentos, o templo é um espaço de planta quadrada, suportado por quatro colunas que representam as mães de Israel. Entre as colunas ligam-se 12 arcos simbolizando 12 tribos de Israel.
No século XV, com a expulsão dos Judeus de Portugal, a sinagoga foi fechada e teve vários usos até que, em 1939 foi inaugurada como Museu Luso-Hebraico.
Em 1920, Samuel Schawrz adquiriu e restaurou a Sinagoga de Tomar, doando-a para que nela se instalasse o Museu. Criado em 1939, teve como primeiro e único director João dos Santos Simões, que acompanhou Garcês Teixeira no estudo do templo.
A colecção de lápides provenientes de vários locais do país atesta a importância da cultura hebraica em Portugal. Destaca-se a lápide funerária proveniente de Faro alusiva ao falecimento de Rabino Yosef de Tomar, em 1315, e a lápide de 1307, que assinalou a fundação da segunda Sinagoga de Lisboa.
O acervo integra livros e objectos da tradição e culto judaicos.
Fonte: Câmara Municipal de Tomar e Turismo Lisboa e Vale do Tejo
quarta-feira, 27 de julho de 2011
terça-feira, 26 de julho de 2011
Sacudindo a pele do medo
Olhemos-nos corajosamente, todos nós, homens e mulheres de Portugal, de frente, sem os risos e os olhares tolos – quase infantis – com que aprendemos a mirar o mundo para disfarçar a nossa abissal ignorância das coisas, porque tudo tornámos ligeiro em nós. Interroguemos-nos seriamente, como gente adulta: vivemos bem connosco, vivemos bem na nossa pele? O mal estar que nos assalta continuamente é natural? Este jeito infantil de vivermos, sem abraçarmos causas, movidos apenas por um primitivo e animal desejo de sobrevivência, é natural?
Desprezámos há muito o saber, e os homens e as mulheres que amam o saber. Temos o sol e um vasto oceano que nos cerca, e de luz baça e de espuma fizemos a nossa vida colectiva. Queremos todos viver para o sol e para o mar, esquecidos que há mais, muito mais que o saboroso sol e o revigorante mar. As morsas e as focas, deitadas sobre a banha acumulada, também vivem para saborear o sol e o mar… mas elas nada mais têm. Nós somos homens e mulheres, e aprendemos a olhar as coisas, para além do sol que nos aquece e do mar que nos alimenta. Pelo menos deveríamos ter aprendido…
Não nos amamos como povo, nem sabemos sequer o que isso é. Não amamos aquilo que realizámos e que realizamos todos os dias. Não construímos porque preferirmos mil vezes suar ao sol, frente ao mar, do que suar pelo nosso trabalho. Sabedoria, sim temo-la, e em excesso. Procuramo-la todos os dias, não nos livros, mas no fundo das canecas de cerveja. Nós, Portugueses, odiamos livros e mais odiamos quem os lê. E que ninguém diga que não é assim, porque mente. Ler é uma obrigação, a pior de todas, nunca um prazer.
Fomos assim forjados, há 500 anos, quando a Inquisição nos tornou a todos espiões dos homens que liam. Fugimos todos da cultura para fugirmos dos ferros e do fogo. E escondemos-nos todos dentro da nossa pele, a pele do nosso imenso medo. Cristãos-velhos denunciavam cristãos-novos e cristãos-velhos, por invejas ou por ódios. Cristãos-novos apressavam-se a denunciar outros cristãos-novos, antes que alguém os denunciasse. E os homens nunca mais foram livres, e todos nos tornámos polícias de todos, e os livros foram todos queimados, e as velas nunca mais se acenderam à sexta-feira, e as mãos e os corpos deixaram de se lavar. A brutalidade instalava-se na velha Luzidanya.
Somos nós, Portugueses, estranhíssimas criaturas. Dentro de nós habitam velhos-cristãos e velhos-judeus. Muitos, a esmagadora maioria, não conhece a origem do seu sangue, e é hoje cristã de corpo e alma, porque pensa que sempre assim foi. Outros, incomodados na sua pele, passam indiferentes diante das igrejas e das capelas, sem saber porquê. Ali foram baptizados, ali casaram, ali baptizaram os filhos. Mas dentro deles não se acende nenhuma Luz, porque aquela não é a sua casa. Eles não sabem, mas sentem. Ainda há medo na sua pele. Ainda não reencontraram o seu caminho. Mas começam a dar os seus primeiros passos. Logo estarão em movimento.
Desprezámos há muito o saber, e os homens e as mulheres que amam o saber. Temos o sol e um vasto oceano que nos cerca, e de luz baça e de espuma fizemos a nossa vida colectiva. Queremos todos viver para o sol e para o mar, esquecidos que há mais, muito mais que o saboroso sol e o revigorante mar. As morsas e as focas, deitadas sobre a banha acumulada, também vivem para saborear o sol e o mar… mas elas nada mais têm. Nós somos homens e mulheres, e aprendemos a olhar as coisas, para além do sol que nos aquece e do mar que nos alimenta. Pelo menos deveríamos ter aprendido…
Não nos amamos como povo, nem sabemos sequer o que isso é. Não amamos aquilo que realizámos e que realizamos todos os dias. Não construímos porque preferirmos mil vezes suar ao sol, frente ao mar, do que suar pelo nosso trabalho. Sabedoria, sim temo-la, e em excesso. Procuramo-la todos os dias, não nos livros, mas no fundo das canecas de cerveja. Nós, Portugueses, odiamos livros e mais odiamos quem os lê. E que ninguém diga que não é assim, porque mente. Ler é uma obrigação, a pior de todas, nunca um prazer.
Fomos assim forjados, há 500 anos, quando a Inquisição nos tornou a todos espiões dos homens que liam. Fugimos todos da cultura para fugirmos dos ferros e do fogo. E escondemos-nos todos dentro da nossa pele, a pele do nosso imenso medo. Cristãos-velhos denunciavam cristãos-novos e cristãos-velhos, por invejas ou por ódios. Cristãos-novos apressavam-se a denunciar outros cristãos-novos, antes que alguém os denunciasse. E os homens nunca mais foram livres, e todos nos tornámos polícias de todos, e os livros foram todos queimados, e as velas nunca mais se acenderam à sexta-feira, e as mãos e os corpos deixaram de se lavar. A brutalidade instalava-se na velha Luzidanya.
Somos nós, Portugueses, estranhíssimas criaturas. Dentro de nós habitam velhos-cristãos e velhos-judeus. Muitos, a esmagadora maioria, não conhece a origem do seu sangue, e é hoje cristã de corpo e alma, porque pensa que sempre assim foi. Outros, incomodados na sua pele, passam indiferentes diante das igrejas e das capelas, sem saber porquê. Ali foram baptizados, ali casaram, ali baptizaram os filhos. Mas dentro deles não se acende nenhuma Luz, porque aquela não é a sua casa. Eles não sabem, mas sentem. Ainda há medo na sua pele. Ainda não reencontraram o seu caminho. Mas começam a dar os seus primeiros passos. Logo estarão em movimento.
Ler mais em: "O País das Serpentes"
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Figuras e factos
Rabino Gershom Mendes Seixas (1745-1816), religioso norte americano com origens portuguesas, é conhecido como o “primeiro rabino do Novo Mundo ou o rabino patriota.” Foi amigo pessoal de George Washington e um dos três representantes do clero presentes na cerimónia da sua tomada de posse como presidente em 1787.
Gershom Seixas liderou a Congregação Sharith Israel e a Portuguese and Spanish Synagogue de Nova Iorque, de 1768 a 1776, e novamente de 1784 a 1816, data da sua morte.
Fonte: Jewish encyclopedia e Jewish Virtual Library
Os cristãos-novos e a crioulização na costa ocidental de África
Segundo o historiador Tobias Green, entre os séculos XVI e XVIII, o território continental dos Rios da Guiné e também as ilhas de Cabo Verde foram os centros de uma forte experiência de crioulização, como deixa evidente ainda hoje o desenvolvimento de uma língua crioula, geralmente tomada por especialistas no tema de crioulização como prova de uma singular mistura de culturas. Assim sendo, ele esclarece o papel dos cristãos-novos neste processo. Os documentos da época alegavam sempre que muitos dos europeus que se fixavam no território africano foram de facto cristãos-novos. Agora, com novas investigações em arquivos portugueses, espanhóis, italianos e holandeses, Tobias Green mostra com muita clareza o papel dos cristãos-novos portugueses neste processo; analisando as redes internacionais que estabeleceram, ligando África à América e Europa, e investigando as razões do especial sucesso que tiveram na região, argumenta que foi a sua fácil adaptação, oriunda das experiências que as suas famílias já haviam tido na Espanha e Portugal, que lhes deu a possibilidade de fazer parte integral da sociedade crioula de Cabo Verde e Guiné.
Tobias Green: Licenciado em filosofia pela Universidade de Cambridge (1996), doutor em Historia da Universidade de Birmingham (2006), Tobias Green faz actualmente investigações pós-doutorais na Universidade de Birmingham financiadas pela Academia Britânica. É autor de artigos publicados em jornais de estudos internacionais (History in Africa, Journal of Atlantic Studies), e de livros publicados na Inglaterra e França. É também autor duma nova história da Inquisição, publicada em 2007 pela Macmillan.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Bragança - Museu Judaico
A cidade de Bragança vai ver surgir uma nova estrutura cultural. Trata-se do Museu Hebraico que vai ficar localizado junto ao Centro de Arte Contemporânea Graça Morais.
O Museu Hebraico vai ser projectado pelo arquitecto Souto Moura, contemplado recentemente com o prémio Pritzker 2011, considerado o Nobel da Arquitectura.
O equipamento vai nascer a partir da recuperação de um edifício secular que está abandonado e degradado e que foi adquirido pela autarquia de Bragança pelo valor de 150 mil euros. Aqui serão instalados o futuro Museu Hebraico e o Centro de Interpretação Sefardita do Nordeste Trasmontano.
Paralelamente surgirá um centro de estudos sobre a presença dos judeus no Nordeste Transmontano, região onde ainda existem importantes núcleos e povoações com arreigadas tradições culturais.Segundo o presidente da Câmara Municipal de Bragança, Jorge Nunes, o projecto já se encontra concluído, embora ainda não estejam reunidas as condições de financiamento necessárias ao arranque das obras de reabilitação do antigo edifício.
O autarca referiu que as obras vão arrancar no próximo ano, devendo, para o efeito, serem criadas as condições necessárias para que o projecto seja financiado por fundos comunitários, já que, como sublinha Jorge Nunes, “ trata-se de uma obra de elevado interesse cultural”.
Via: "Os judeus em Trás os Montes"
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Judeus portugueses no ducado do Luxemburgo
Portugueses no Ducado Luxemburguês em 1546
de António de Vasconcelos Nogueira, investigador na associação Amizade Portugal - Luxemburgo
Esta perspectiva leva-nos a reflectir sobre a presença de Portugueses no Luxemburgo. Um episódio histórico fala-nos de um incidente com mercadores e banqueiros judeus portugueses, provenientes de Antuérpia, na fronteira do Ducado do Luxemburgo, em 1546. O seu destino seria Colónia, na Alemanha. Estariam, portanto, em trânsito, visto que o imperador Carlos V, casado com D. Isabel de Portugal, Duque do Luxemburgo, pai e avô dos reis Filipes, de Espanha e Portugal, interditou a permanência nos seus domínios de mercadores e banqueiros protestantes, mas condescendeu no livre-trânsito aos portugueses, ainda que suspeitos de judaizarem, exercendo sobre eles medidas de controlo e tributação fiscal, para financiar a sua Corte e as campanhas militares em todo o seu Império.
Portanto, existe uma presença portuguesa nos Países Baixos, em meados de 1550, que é muito anterior ao fenómeno imigratório português dos anos 1960. Trata-se de uma elite de portugueses relacionados com a banca e o comércio das especiarias. Estabelecem uma rede global de trocas, através das suas empresas de tipo familiar e dos entrepostos ou principais praças financeiras, para a época. São mercadores e banqueiros judeus portugueses. Dão início à diáspora dos tempos modernos, não propriamente à imigração. São perseguidos por motivos religiosos e económicos. Pelo seu reduzido número, pelo seu estatuto e papel socioeconómico, distinguem-se da figura do imigrante português contemporâneo. São também os primeiros que por estas paragens circulam e exercem actividades.
de António de Vasconcelos Nogueira, investigador na associação Amizade Portugal - Luxemburgo
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Antes tarde do que nunca...
FINALMENTE, OS CHUETAS SÃO RECONHECIDOS COMO JUDEUS !
De acordo com o jornal El Pais, os chuetas de Maiorca são reconhecidos como judeus pela autoridade rabínica de Israel. Esperemos que aconteça o mesmo em relação aos marranos portugueses.
Via: "Portugal e os Judeus"
JUDEU - PORTUGUÊS
Essa forma linguística era vernacular aos judeus de Portugal antes do século XVI, e sobreviveu em muitas comunidades da diáspora dos Judeus da Nação Portuguesa. Os textos eram escritos em letras hebraicas (aljamiado português) ou latinas.
Existe um pequeno testemunho dessa variação linguística na obra de Gil Vicente, o "Auto da Barca do Inferno".
Também foi influenciada pela língua dos judeus espanhóis, o Ladino, mas era distinta dessa, já que os judeus lusos nunca foram expulsos de seu país, antes forçados à conversão. Muitos dos Cristãos-Novos continuaram secretamente a observar o judaísmo e a preservar a língua, até que a inquisição se estabeleceu em Portugal em 1536, levando uma onda migratória dos conversos para França, Holanda, Turquia, Grécia, Balcans, Inglaterra e Américas.
Devido à sua similaridade, o Judeu-Português morreu logo em Portugal, mas sobreviveu na diáspora como língua do dia-a-dia até princípios do século XIX. Também sobrevive em forma de substrato no Papiamento, nas Antilhas Holandesas.
Judeu / português é uma língua extinta dos judeus de Portugal
Essa forma linguística era vernacular aos judeus de Portugal antes do século XVI, e sobreviveu em muitas comunidades da diáspora dos Judeus da Nação Portuguesa. Os textos eram escritos em letras hebraicas (aljamiado português) ou latinas.
Existe um pequeno testemunho dessa variação linguística na obra de Gil Vicente, o "Auto da Barca do Inferno".
Também foi influenciada pela língua dos judeus espanhóis, o Ladino, mas era distinta dessa, já que os judeus lusos nunca foram expulsos de seu país, antes forçados à conversão. Muitos dos Cristãos-Novos continuaram secretamente a observar o judaísmo e a preservar a língua, até que a inquisição se estabeleceu em Portugal em 1536, levando uma onda migratória dos conversos para França, Holanda, Turquia, Grécia, Balcans, Inglaterra e Américas.
Devido à sua similaridade, o Judeu-Português morreu logo em Portugal, mas sobreviveu na diáspora como língua do dia-a-dia até princípios do século XIX. Também sobrevive em forma de substrato no Papiamento, nas Antilhas Holandesas.
Hebraísmos:
Judeu-Português/ Hebraico Significado
cados - cadosh - santo
esnoga - sinagoga
jessiba - yeshiva escola religiosa
massó - matzot - pães de Pessach
misvá - mitzvá - mandamento
ros - rosh - cabeça
rassim - rashim cabeças
rossaná - Rosh Hashaná - ano novo judaico
sabá - Shabbat - sábado
sedacá - tsedaká - caridade
queilá - Kehila - congregação
quidus - kidush - bênção sobre o vinho
tebá- Bimá - plataforma central da sinagoga
Influências do Ladino:
Judeu-Português/ Português Ladino
el Dio - O Deus el Dio
manim - mãos manos
desgracia - desgraça
Arcaísmos:
Judeu-Português/ Português Moderno
algũa - alguma
angora - agora
apartar - separar
ay - há
aynda - ainda
dous - duas
he - é
hũa - uma
elle, ella - ele, ela
Referências:
Judeo-Portuguese in Jewish Language Research Center
Thesouro dos Dinim, a Halakhic work
Strolovitch, Devon L. (2005) Old Portuguese in Hebrew Script: Convention, Contact, and Convivência. Ph.D. dissertation, Cornell University.
Fonte: enciclopédia portuguesa livre
quinta-feira, 14 de julho de 2011
Efeméride
(14 de Julho de 1099)
Na primeira Cruzada, que foi a única vitoriosa para as hostes cristãs, cavaleiros de toda da Europa capturam Jerusalém após sete semanas de cerco. Sedentos de sangue e imbuídos de um feroz fanatismo religioso, após a tomada da cidade, eles iniciam o massacre de judeus e muçulmanos que habitavam a cidade sagrada. Até cristãos de rito oriental são chacinados.
Vestígios e memórias do passado
- Judiaria de Salzedas - Concelho de Tarouca - Portugal
Interessante conjunto de casas que remontam à época medieval, dando ao sítio em questão uma original perspectiva sobre a urbe desse período. Por aqui viveram judeus e cristãos-novos num labirinto quase claustrofóbico e sombrio. Ainda hoje se pode admirar as suas construções originais e quiçá, se estivermos atentos, ouvir os sussurros dos seus antigos moradores de há 500 anos.
- Casas da judiaria de Salzedas.
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Fortunato Levy, um dos fundadores do S.L.B.
Primeira equipa do Sport Lisboa e Benfica - Plantel do ano 1905.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Vestígios e memórias do passado
Judiaria de Medelim - Portugal
Nesta localidade beirã existiu até ao século XV uma importante comuna judaica. Actualmente, só resta a designação da "Rua da Judiaria", e seu conjunto de casas bastante típicas, a que chamam hoje em dia de balcões. Estas casas interiormente tinham ligação entre si.
Uma comunidade da ciência judaica de fronteira
História Local e Regional : - No Alto Alentejo, pelo menos desde fins do séc. XIV, estavam em crescimento alguns núcleos populacionais de origem judaica, das quais as chamadas Ruas Novas contribuíam para um novo traçado, como são exemplos, a então Vila de Elvas ou as vilas próximas desta, como eram os casos particulares das vilas de Estremoz e Vila Viçosa. Na centúria seguinte, Castelo de Vide, Campo Maior, Sousel e Fronteira tornavam-se outros núcleos de população judaica em função das constantes fugas de inúmeras famílias que face à violência da inquisição Espanhola, mais cruel que a Portuguesa, determinava a procura dos espaços da raia de portuguesa como locais de refúgio por excelência. Nesse contexto, Campo Maior e Elvas tornaram-se importantes “centros de recepção” dessas populações em fuga: em Elvas o número de fugitivos aproximou-se dos 10.000, que apesar de tudo estava longe do número de fugitivos do número atingido em locais mais a Norte do País, como Miranda que atingiu o triplo do número de refugiados daquela ainda vila raiana da região do Caia. Na comuna de Elvas em tempo de exílio judaico em 1444, José Verdugo, ficava isento de prestar serviços ao concelho e os cirurgiões Rabi Sabi e Ordenha,tinha permissão para viver entre os cristãos, tal como Meir Cuélar; o mesmo sucedia com o boticário Abel Alfarim e com o mercador Samuel Monção , tal como a maioria dos médicos (cirurgiões) de Elvas. Mas a integração e reputação da comunidade judaica junto à cristã, era significativa junto daqueles que tinham como ofício a prática da ciência, nomeadamente a cirurgia que tinha os principais centros em Évora, Elvas, Fronteira e Crato. Se Évora era o principal centro científico pelo número de cirurgiões e físicos e pela sua qualidade, sendo conhecidas alguns apelidos de famílias conhecidas pelo seu êxito no ofício da medicina como os Abeacar, Navarra e Pinto, outros tinham no seu espaço físico outros homens de ciência em regime de dependência como Mestre João, Moisés e Eléazar: Outras localidades deviam o seu espaço de ciência à presença de um ou mais elementos da comunidade judaica, como, por exemplo, Portalegre, Montemor-o-Novo, Vila Viçosa, Campo Maior e Olivença. Todavia não podemos ignorar que a importância científica das populações do Alto Alentejo, está deveras ligadas aos movimentos de exílio da pressão da Inquisição Espanhola. De facto, o número de cirurgiões e de físicos foi de tal forma significativa que por carta régia de D. Afonso V se estabelecia ainda antes de meados do séc. XV que todos aqueles que exerciam os ofícios considerados deviam de ser novamente reexaminados sob pena de prisão ou outra a aplicar. Nesses contextos políticos – legislativos, foram muitos os cirurgiões e físicos, judeus muitos deles identificados um pouco mais tarde como cristãos-novos, que atravessaram a fronteira luso-espanhola, prestaram provas na Corte, como foram os casos de Moisés Vinho, morador em Badajoz e de Mestre Álvaro de Elvas, que tinha desde sempre exercido o seu ofício em terras castelhanas.
de Arlindo Sena
Poema de Herberto Helder
Poeta e ficcionista português nascido na ilha da Madeira.
Herberto Helder é descendente de famílias judias.
TEORIA SENTADA
I
Um lento prazer esgota a minha voz. Quem
canta empobrece nas frementes cidades
revividas. Empobrece com a alegria
por onde se conduz, e então é doce
e mortal. Um lento
prazer de escrever, imitando
cantar. E vendo a voz disposta
nos seus sinais, revelada entre a humidade
dos corpos e a sua
glória secular. Uma dor esgota
a idade, com cravos, da minha voz.
E eu escrevo como quem imita uma vida e a vida
de uma inconcebível
magnitude. Ou somente de uma
voz. Um lento desprazer, uma
solidão verde, ou azul, esgota por dentro e para cima,
como um silêncio, o antigo
de minha voz.
O que digo é rápido, e somente o modo
de sofrer
é lento e lento. É rapidamente fácil e mortal
o que agora digo, e só
as mãos lentamente levantam o álcool
da canção e a formosura
de um tempo absorvido. Digo tudo o que é
mais fácil da vida, e o fácil
é duro e batido pela paciência.
Porque a terra dorme e acorda de uma
para outra estação.
Porque vi crianças alojadas nos meus
melhores instantes, e vi
pedaços celestes fulminados na minha
paixão, e vi
textos de sangue marcados desordenadamente
pelo ouro. Porque vi e vi, na saída
de um dia para o começo
da primeira noite, e no despedaçar da noite.
E porque me levantei para sorrir
e ser cândido. E porque então
estremeci com a rapidez das palavras e a quente
morosidade
da vida. Eu disse o que era fácil
para dizer e eu tão
dificilmente havia reconhecido. Porque eu disse:
um prazer, um pesado prazer de cantar
a vida, consome a única voz
de uma vida mais sombria e mais funda.
E eu mudo sobre este campo parado
de cravos, quando a lua
rebenta, quando
sóis e raios crescem para todos os lados do seu
fulminante país.
Alguém se debruça para gritar e ouvir em meus
vales
o eco, e sentir a alegria de sua expressa
existência. Alguém chama por si próprio,
sobre mim, em seus terríficos confins.
E eu tremo de gosto, ardo, consumo
o pensamento, ressuscito
dons esgotados. Escrevo à minha volta,
esquecido de que é fácil, crendo
só no antigo gesto que alarga a solidão contra
a solidão do amor.
Escrevo o que bate em mim — a voz
fria, a alarmada malícia
das vozes, os ecos de alegria e a escuridão
das gargantas lascadas. Para os lados,
como se abrisse, com a doçura de um espelho
infiltrado na sombra. Fiel
como um punhal voltado para o amor
total de quem o empunha.
Alguém se procura dentro de meu ardor
escuro, e reconhece as noites
espantosas do seu próprio silêncio. E eu falo,
e vejo as mudanças e o imóvel
sentido do meu amor, e vejo
minha boca aberta contra minha própria boca
num amargo fundo de vozes
universais.
Alguém procura onde eu estou só, e encontra
o campo desbaratado
e branco da sua
solidão.
de Lugar, 1962, in Ofício Cantante.
Poesia completa, Assírio & Alvim, 2009 – documenta poética.
Humor
Eu espero !!!
Três europeus são apanhados por uma tribo de canibais, que concede um último desejo a cada um :
Inglês: - Quero fumar o meu cachimbo uma última vez.
O chefe da Tribo : Ok, sem problema
Francês: - Quero comer bem pela última vez.
O chefe da Tribo : Ok, sem problema
Português: - Quero comer morangos.
O chefe da Tribo : - Mas nesta época do ano não há morangos...
Português: - Não faz mal, eu espero!
Inglês: - Quero fumar o meu cachimbo uma última vez.
O chefe da Tribo : Ok, sem problema
Francês: - Quero comer bem pela última vez.
O chefe da Tribo : Ok, sem problema
Português: - Quero comer morangos.
O chefe da Tribo : - Mas nesta época do ano não há morangos...
Português: - Não faz mal, eu espero!
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Curiosidade
Ao Fundão chegaram ainda durante o século XV e XVI muitos judeus oriundos de Espanha, muitos deles em fuga devido ao édito de expulsão. Já em Portugal, e neste caso particular no Fundão, muitos encontraram as condições ideais para o reiniciar das suas actividades económicas, dando um importante contributo para o desenvolvimento desta mesma região e à localidade. Um dos muitos vestígios deixados no Fundão, encontra-se na Rua da Cale, antigo lugar onde viveria a comunidade hebraica.
Segunda reza a tradição, no dia 22 de Novembro do ano de 1580, um grupo de populares teriam tido a audácia de desafiar e agredir alguns dos emissários do Santo Ofício, que aqui se deslocaram a fim de deter importantes pessoas da "Gente da Nação".
Curioso este episódio de boa vizinhança entre cristãos-velhos e novos.
Rua da Cale, Fundão - Portugal (Wikipédia).
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