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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Uma comunidade da ciência judaica de fronteira








História Local e Regional : - No Alto Alentejo, pelo menos desde fins do séc. XIV, estavam em crescimento alguns núcleos populacionais de origem judaica, das quais as chamadas Ruas Novas contribuíam para um novo traçado, como são exemplos, a então Vila de Elvas ou as vilas próximas desta, como eram os casos particulares das vilas de Estremoz e Vila Viçosa. Na centúria seguinte, Castelo de Vide, Campo Maior, Sousel e Fronteira tornavam-se outros núcleos de população judaica em função das constantes fugas de inúmeras famílias que face à violência da inquisição Espanhola, mais cruel que a Portuguesa, determinava a procura dos espaços da raia de portuguesa como locais de refúgio por excelência. Nesse contexto, Campo Maior e Elvas tornaram-se importantes “centros de recepção” dessas populações em fuga: em Elvas o número de fugitivos aproximou-se dos 10.000, que apesar de tudo estava longe do número de fugitivos do número atingido em locais mais a Norte do País, como Miranda que atingiu o triplo do número de refugiados daquela ainda vila raiana da região do Caia. Na comuna de Elvas em tempo de exílio judaico em 1444, José Verdugo, ficava isento de prestar serviços ao concelho e os cirurgiões Rabi Sabi e Ordenha,tinha permissão para viver entre os cristãos, tal como Meir Cuélar; o mesmo sucedia com o boticário Abel Alfarim e com o mercador Samuel Monção , tal como a maioria dos médicos (cirurgiões) de Elvas. Mas a integração e reputação da comunidade judaica junto à cristã, era significativa junto daqueles que tinham como ofício a prática da ciência, nomeadamente a cirurgia que tinha os principais centros em Évora, Elvas, Fronteira e Crato. Se Évora era o principal centro científico pelo número de cirurgiões e físicos e pela sua qualidade, sendo conhecidas alguns apelidos de famílias conhecidas pelo seu êxito no ofício da medicina como os Abeacar, Navarra e Pinto, outros tinham no seu espaço físico outros homens de ciência em regime de dependência como Mestre João, Moisés e Eléazar: Outras localidades deviam o seu espaço de ciência à presença de um ou mais elementos da comunidade judaica, como, por exemplo, Portalegre, Montemor-o-Novo, Vila Viçosa, Campo Maior e Olivença. Todavia não podemos ignorar que a importância científica das populações do Alto Alentejo, está deveras ligadas aos movimentos de exílio da pressão da Inquisição Espanhola. De facto, o número de cirurgiões e de físicos foi de tal forma significativa que por carta régia de D. Afonso V se estabelecia ainda antes de meados do séc. XV que todos aqueles que exerciam os ofícios considerados deviam de ser novamente reexaminados sob pena de prisão ou outra a aplicar. Nesses contextos políticos – legislativos, foram muitos os cirurgiões e físicos, judeus muitos deles identificados um pouco mais tarde como cristãos-novos, que atravessaram a fronteira luso-espanhola, prestaram provas na Corte, como foram os casos de Moisés Vinho, morador em Badajoz e de Mestre Álvaro de Elvas, que tinha desde sempre exercido o seu ofício em terras castelhanas.





de Arlindo Sena