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terça-feira, 17 de março de 2015

Jogo do Rapa





Como já em anteriores posts salientei, Trás-os-Montes tem até hoje um incontável registo de tradições que ficaram da herança judaica, o jogo do Rapa parece ser um desses exemplos.

Fernando Ribeiro no seu blogue dedicado à cidade de Chaves, relata-nos sobre este mesmo jogo, praticado até hoje em algumas zonas transmontanas, mas ao que indaguei, este costume foi também utilizado pelas crianças da Beira-Alta, que em tempos mais difíceis, era acompanhado com pinhões, castanhas e outros frutos secos.




(…) O Natal de muitos dos nossos pais e avós foi marcado por um jogo que está bem presente nas suas memórias de infância. Rapa, tira, deixa e põe...


   O jogo do rapa. Deixem, agora, que mude o nome a este brinquedo e lhe chame dreidel, em yiddish, e passe a ler as quatro letras em hebraico -  נ (Nun), ג (Gimel), ה (Hei), ש (Shin), que juntas foram o acrónimo para (Nes Gadol Haya Sham – “um grande milagre aconteceu lá” – em Israel).






O rapa. Um brinquedo e um jogo que a diáspora judaica manteve durante as festividades do Hanukah, para consagrar e honrar a memória da Terra Santa. Um jogo que nós adaptámos e baptizámos com a devida vénia à tradição anti-judaica: rapa, tira...






Vem-me ainda à memória a curiosa tradição de Páscoa que, na minha adolescência, vim encontrar em Chaves. Em vésperas da Semana Santa juntava-se dinheiro para comprar peças de barro no antigo mercado da Rua do Olival. No domingo de Páscoa, na Rua de Santa Maria, as crianças jogavam aos púcaros e caçoilos, atirando-os de mão em mão até se partirem... Mais tarde, Amílcar Paulo [n. 1929], ensinou-me que a tradição sefardita cripto-judaica mantinha o hábito de quebrar loiça doméstica, durante a Páscoa, como símbolo de renascimento e renovação...


Recordo, para concluir, as reticências que algumas pessoas tiveram perante o nome escolhido para a minha filha. Embora não aceitando as objecções, compreendi-as. Há uma quadra popular que evidencia ainda o preconceito dos católicos para com este e outros nomes:



Ana, Magana,
Rebeca, Susana,
Pariste um gato
Debaixo da cama...



Surge como inevitável a associação das expressões aqui há gato e sabe a rabo de gato com esta quadra, mesmo que as suas origens possam ser outras... Se, entretanto, considerarmos que a antiga judiaria de Chaves ainda não foi definitivamente localizada e à tradição oral acrescentarmos um pouco de imaginação, veja-se onde a Rua dos Gatos nos pode levar..."




(Um grande obrigado à Cristina Oliveira, que foi a
 pessoa que me fez chegar este tema).





Via: chaves.blogs.sapo.pt