Em Janeiro de 1605, depois de alguns subornos e de acordos secretos nos bastidores da política peninsular, os cristãos-novos obtinham nesta data o tão desejado perdão geral, pois até esse momento, estes, encontravam-se proibidos de sair de Portugal, como ainda estavam sujeitos ao confisco de bens e ao uso abusivo de designações como “marrano” e “judeu”, impedindo assim a igualdade e a ascensão social dos mesmos.
Este perdão, veio originar a partir daquela data de um maior afrouxamento durante um certo período, do braço da Inquisição.
Mas não se pense que esta pequena vitória dos cristãos-novos tenha de alguma maneira abrandado o rancor e o desejo de ajuste de contas por parte do clero nacional. Depois do perdão de Janeiro de 1605, e consequente libertação de mais de quatro centenas de presos das celas inquisitoriais, um deles, o pai do famoso rabino de Amesterdão, Menasseh ben Israel, surgiram de imediato tumultos nas cidades de Lisboa e Coimbra contra os cristãos-novos, habilmente orquestrados por exaltados devotos, que viam neste indulto uma fraqueza perante o possível crescimento futuro dos ritos judaizantes em terras portuguesas.
Coimbra, por volta do final do século XVII, ou início do século XVIII.
(Acervo da Universidade de Coimbra).
Retirado de: sumidoiro.wordpress.com
A partir de 1621, já com Filipe III, os velhos costumes voltaram a ser o que eram, neste caso, a Inquisição não perdeu tempo, e de uma só vez, centenas de pessoas viram a sua vida destruída em processos de autos de fé concluídos nos tribunais de Évora, Lisboa e Coimbra.
Brasão com as armas dos reinos peninsulares unidos, durante a dinastia filipina, de 1580 a 1640.
Filipe IV com armadura, quadro de Gaspar de Crayer.
(Metropolitan Museum of Art).
Segundo reza a história, o futuro monarca Filipe III de Portugal (IV de Espanha), enquanto herdeiro da coroa, visitou o território português no ano de 1619, assistido pessoalmente
à execução de cristãos-novos pela fogueira, na cidade de Évora, o que provocou forte indisposição no seu delicado estômago.
Fonte: Cadernos de estudos sefarditas, livro I – (2001)
Cátedra Alberto Benveniste