quinta-feira, 31 de março de 2011

Efemérides



A 31 de Março de 1492, é assinado o decreto de expulsão dos judeus de Espanha.






A 31 de Março de 1821, data da extinção da Inquisição em Portugal.



  

quarta-feira, 30 de março de 2011

Alma de Sefarad






Conto popular alentejano




brasao_batalha.jpg



"Mandaste-me perguntar
De que gente eu precedia;
Eu mandei-te de resposta:
Não sou preta, nem judia."




"Contos Populares Portugueses", Elvas, recolha de Tomás Pires, entre 1902 - 1910



Efemérides




(30 de Março de 1135)


Data de nascimento de Moisés ben Maimon O Rambam. Maimónides foi o mais famoso filósofo judeu e uma das maiores autoridades da lei religiosa judaica. 

Nasceu em Córdova.






Por terras portuguesas...




É muito interessante verificar ainda hoje o que ficou da herança dos judeus e cristãos-novos por terras lusitanas, e isso aplica-se a mim próprio, com tradições que me foram ensinadas, mas não explicadas do motivo e das suas origens.

Tanto nas Beiras como também em Trás-os-Montes, era costume até há bem pouco tempo as mulheres se reunirem nas casas umas das outras, para prática de rezas, ou na recitação de orações especiais: a isso costumava-se designar "fazer sinagoga".
A "gente da nação"orgulhava-se de seguir o preceito que às terças e sextas, só judeus podiam cortar as unhas e fazer a barba.
Há o ritual, e fui testemunha disso mesmo em 2010, em Valpaços, relativamente à tradição de alguns lavradores de cortarem as pontas das árvores, seguindo a determinação do Levítico, (Vayikrá): "Quando entrares na terra e plantares nela árvores frutíferas, cortar-lhes-ás os seus prepúcios: os primeiros frutos que produzirem serão imundos para vós, e não comereis deles..." 
Só os homens podem recolher esses primeiros frutos, que não são comidos.
Em Argozelo, o investigador Amílcar Paulo recolheu há muitos anos uma tradição levada a efeito por mulheres mais idosas, onde durante oito dias, as mesmas traziam na Páscoa um crucifixo preso à saia, e ao caminhar declamavam que: "Quanto mais te arrasto, mais vontade tenho de te arrastar."
Já na zona de Rebordelo e Vinhais, ficou a designação de "góios", nome atribuído pelos cristãos-novos aos restantes cristãos-velhos. Aqui, podemos observar uma clara adulteração do 
termo "goim", nome dado pelos judeus às pessoas de outras religiões.
Em Bragança há também o termo de "trefe", mais uma adulteração para o português da palavra hebraica de "trefá", impuro.




Este blog permanecerá sempre actual e atento na recolha e divulgação dos costumes da nossa gente. Refiro-me especialmente há presença dos "Anussim" em Portugal.

terça-feira, 29 de março de 2011

Parabéns a Souto Moura



souto moura


O prémio Pritzker foi atribuído ao arquitecto português Souto Moura. Um reconhecimento pelo seu trabalho excelente e único na arquitectura mundial.


Curiosidade






Numa época já distante, entre os reinados de D. João II e D. Manuel I, ainda antes do decreto de expulsão, um jogral anónimo terá escrito esta cantiga de maldizer, numa referência directa e mordaz à liberdade de que os judeus gozavam em Portugal.



"A terra está
de esnogas bem cheia
e fazem a ceia
dos asmos por cá.


Vereis enfeitados
os sábados todos,
vereis de mil modos
capuzes frisados."



Do livro:"Os Judeus Secretos em Portugal", de Amílcar Paulo - Editora Labirinto, 1985.


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segunda-feira, 28 de março de 2011

 A frase da semana




"Como devem ser duros os caminhos
quando a gente só pensa na volta."


Guimarães Rosa


Efeméride



(28 de Março de 1917)


Os judeus de Tel Aviv e Yafo são expulsos pelas autoridades turcas. Na época, o Império Otomano ocupava a Palestina, perdendo-a após a 1ª Guerra Mundial para os britânicos.





quinta-feira, 24 de março de 2011

A oração da "torcida de linho"







Em terras brigantinas, quando o calendário pascal se aproximava da festividade em questão, grupos de criptojudeus ainda nos anos cinquenta e sessenta do século XX se deslocavam até próximo do rio Sabor, para rezar clandestinamente ao Deus de Israel.
Também em suas casas, as mulheres (sempre elas), acendiam a candeia de sábado e diziam orações como esta:


"Louvado seja o Senhor, que me fez e me encomendou nas suas santas encomendanças. Deixou o Senhor dito que lavasse as minhas mãos com água esclarecida para fazer esta torcida de linho, de linhal (?), para queimar e arder com o sagrado azeite de oliva santa em candelete (?), pelo nome santo do Senhor. Ámen".






Deve-se ao grande investigador Amílcar Paulo, a recolha destas
 tradições que infelizmente já se perderam.



quarta-feira, 23 de março de 2011

Judiaria da Villa de Luna (Cinco Villas, Zaragoza) 

 

 

 

 

terça-feira, 22 de março de 2011

Efemérides



A 23 de Março de 1490, foi publicada a primeira edição da obra-magna de Maimónides, o Mishné Torá. Esta obra classifica, codifica, e esclarece todos os mandamentos judaicos.




Alemanha, 21 de Março de 1349.
Mais de 3000 judeus foram mortos neste país, acusados de serem os "responsáveis" pela Peste Negra.




segunda-feira, 21 de março de 2011

Semana da cultura - Paris






domingo, 20 de março de 2011

Humor...






Um judeu passa à frente de uma montra de uma loja vazia, apenas com um relógio exposto. Entra na loja e pergunta:
- Quanto tempo leva a consertar o meu relógio ?
- Sei lá ! diz o dono da loja. Eu não arranjo relógios - faço circuncisões.
- Mas na montra tem um relógio ! - E o que é que o senhor queria que eu lá pusesse ?"


sexta-feira, 18 de março de 2011

Exposição


Michael Biberstein e Rui Sanches:
companheiros no espaço




Museu da Cidade - Pavilhão Branco, Campo Grande, Lisboa.
Até ao dia 10 de Abril.



Iluminura







Exemplar de um Mishneh Torah, (código da lei judaica) Lisboa, 1472.


(British Library - Londres)



Trata-se de uma das mais importantes e completas codificações da Halachá.
Este tratado é composto por 14 livros, 982 capítulos e milhares de leis. Foi escrito pelo grande pensador judeu Moshe ben Maimónides, quando este se encontrava no Egipto, entre 1170 e 1180.



Halachá - Lei Judaica. "Caminho pelo qual se anda".




quinta-feira, 17 de março de 2011

A lenda de uma judia de nome Ofa



Haverá por acaso lugarejo, vila ou cidade em Portugal, que não preze ter nas suas ancestrais memórias lendas referentes a "mouras encantadas" ?
Será muito raro com certeza. Já sobre "judias encantadas" o caso muda de figura. Mas há factos na nossa história, e algumas lendas, de como estas últimas, reviraram completamente do avesso a alma e o coração de alguns venustos cavaleiros cristãos.
Conto-vos hoje a lenda da Serra da Marofa, serra esta, que se situa na Beira Interior, distrito da Guarda, município de Figueira de Castelo Rodrigo.



"Amar Ofa"


Com a expulsão dos judeus no país vizinho, muitas foram as famílias que atravessaram a nossa fronteira. Beneficiou desse enorme êxodo o nosso reino, e D. João II, que afortunadamente matou dois coelhos de uma só vez: os cofres encheram-se de moedas das portagens pagas por cabeça, e ficamos com mesteirais especializados em muitas artes necessárias à expansão em curso.
Numa dessas famílias de judeus vindos de Espanha, havia uma linda moça de nome Ofa.


Esta família terá decidido construir o seu novo lar numa das encostas da serra. Perante tal beleza, as notícias de alguém tão formoso ecoaram rapidamente pela região, até chegarem aos ouvidos do filho de um fidalgo português, que ao conhecer Ofa, se apaixonou perdidamente pela donzela.

Porém, novos e terríveis factos políticos alteraram para sempre o curso da história nacional. Em 1496, quatro anos depois da chegada destes milhares de refugiados, o novo rei D. Manuel I decretava a conversão forçada, ou, a expulsão de Portugal de todos os judeus que não aceitassem a religião de Cristo.



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A família de Ofa decidiu ficar, convertendo-se à nova fé, e assim, tornaram-se cristãos-novos, algo que há muito o jovem fidalgo desejava ardentemente. Contente, D. Luís pediu a mão da sua amada à família desta, ao mesmo tempo, que sabia do desgosto que provocava na sua própria família. Indiferente a tudo e a todos, este cavaleiro tinha o hábito de cavalgar até à serra, (vai-se lá saber o porquê) e aí, dava azo à sua enorme felicidade, gritando bem alto. "Vou amar Ofa/Vou amar Ofa".
Após muitas peripécias, os noivos acabaram por se casar no Mosteiro de Santa Maria de Aguiar.

Ficou para sempre a lenda e a designação de "Serra da Marofa", uma justa homenagem ao amor entre uma judia e um cristão.



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quarta-feira, 16 de março de 2011

E acerca da discriminação árabe ?




Recordar Natália Correia





Poema Involuntário


Decididamente a palavra
quer entrar no poema e dispõe
com caligráfica raiva
do que o poeta no poema põe.

Entretanto o poema subsiste
informal em teus olhos talvez
mas perdido se em precisa palavra
significas o que vês.

Virtualmente teus cabelos sabem
se espalhando avencas no travesseiro
que se eu digo prodigiosos cabelos
as insólitas flores que se abrem
não têm sua cor nem seu cheiro.

Finalmente vejo-te e sei que o mar
o pinheiro a nuvem valem a pena
e é assim que sem poetizar
se faz a si mesmo o poema.



Natália Correia, in "O Vinho e a Lira"

terça-feira, 15 de março de 2011

Conferência






Efeméride


(15 de Março de 1391)



Neste dia ocorreram manifestações violentas contra os judeus por toda a Espanha. Teriam morrido neste frenesim de sangue e morte, quase 30.000 pessoas em menos de um ano. Muitos dos judeus converteram-se ao cristianismo para escapar à morte.


(A comunidade hebraica de Barcelona praticamente
desaparece nesse trágico ano de 1391).


Alguns milhares de judeus oriundos de Navarra, Aragão e Castela, entram em Portugal.





Massacre de judeus em Barcelona, ​​em 1391. Ano 1920 (cor), Escola espanhola, (século 20) / Private Collection / Image Índice /  Biblioteca de Arte Bridgeman .   



segunda-feira, 14 de março de 2011

Judiarias de cá...



Castelo de Vide - Alentejo



File:Judiaria de Castelo de Vide (1).jpg



A frase da semana





"A alegria encontra-se no fundo de cada coisa;
pertence porém, a cada um o saber descobri-la."



Marco Aurélio

domingo, 13 de março de 2011

Livro a não perder








Um original tour por Israel, magnificamente desenhado por Ricardo Cabral.








Judiarias de lá...


Judiaria de Córdova - Espanha







Fotografia: artencordoba.com





sexta-feira, 11 de março de 2011

Shabat Shalom...



Shabbat Shalom


Pintores portugueses



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"Menina dos cravos", de Amadeo de Souza-Cardoso

 
 

quinta-feira, 10 de março de 2011

 "O discurso do Presidente", cartoon de Henrique Monteiro





Diário das Cortes Geraes e extraordinarias da Nação Portugueza



(Texto reproduzido com a grafia da época)


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SESSÃO DO DIA 17 DE FEVEREIRO DE 1821

PROJECTO DE DECRETO

 
As Cortes Geraes, e Extraordinarias da Nação Portugueza, bem informadas, e capacitadas dos gravissimos damnos, e prejuisos que resultárão a este Reino da iniqua expulsão dos Judeos, decretada pelo Senhor D. Manoel em Dezembro de 1496, e executada no principio da Quaresma no anno de 1497 com a barbaridade de se lhes arrancarem do patrio poder seus filhos, e filhas menores de 14 annos, para se criarem, e educarem como orphãos, repartidos pelas villas, e lugares do Reyno; faltando-se-lhes á promessa de os levarem, e suas mulheres, e seus bens; adiantando-se a barbara execução muito antes do dia assignado em segredo para lhos extorquiram; determinando-se-lhes sómente o porto de Lisboa para o embarque; tendo-se-lhes promettido tres portos no Reyno; não lhes mandando dar embarcações, que se lhes assegurarão, para lhes passar o praso, e ficarem captivos; alem de outras mais crueldades, que constão da Chronica: Decretão o seguinte.
1. Ficão da data deste em diante renovados, confirmados, e postos em todo o seu vigor todos os direitos, faculdades, liberdades, e privilegios, que os primeiros Reys deste Reino concedêrão aos Judeos foragidos, e que constão dos Artigos 65, e 66 Ord. Affons., L.º 2.º n.° 7.
2. Da mesma, sorte, e em toda a sua extensão ficão renovados, e postos em vigor os que de novo lhes concedeo o senhor D. João I.°, quando confirmou os anteriores em 17 de Julho de 1392, e todos os outros, com que os honrou em 1422.
3. Podem em consequencia regressar para Portugal, sem o menor receio, antes sim com toda a segurança, não só os descendentes das familias expulsas, mas todos os Judeos que habitão em qualquer parte do globo terão neste Reino as mesmas contemplações, se para elle quizerem vir.
4. Esta mesma legislação comprehenderá os Mouros descendentes das familias que, com tanto descredito de nossos Mayores, forão igualmente expulsos deste Reyno na mesma desgraçada épocha; estendendo-se por a dicta maneira a todos os que quizerem vir estabelecer-se em Portugal, e Algarves.
A Regencia do Reyno, etc.


… / …


Levantou o senhor Presidente a Sessão pela huma hora da tarde. - João Baptista Felgueiras, Secretario.

Exposição "Leal da Câmara entre a Monarquia e a República"
Casa-Museu de Leal da Câmara (Rinchoa)


Exposição de 51 painéis com imagens e caricaturas de Leal da Câmara, do período entre a Monarquia e a República.
Até ao dia 22 de Maio.





quarta-feira, 9 de março de 2011

Seminário | MSML, Percurso de um Fundo Monástico - Do Mosteiro de Lorvão ao Ciberespaço






Organização
Instituto de Estudos Medievais (IEM) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH/UNL)
IEM/GI Imagem e Texto Medievais

Data
31 de Março de 2011

Local
Arquivo da Universidade de Coimbra/Mosteiro de Lorvão

Entrada
Livre – Inscrição obrigatória (Transporte Coimbra-Lorvão/Lorvão Coimbra incluído)




O terramoto de 1531





Lisboa quinhentista. Duarte Galvão, na Crónica d’el Rei Dom Afonso Henriques, c. 1520.




Com um epicentro algures entre Azambuja e Vila Franca de Xira, no dia 26 de Janeiro de 1531, um terramoto destruiu parcialmente Lisboa. Sismo que, segundo se julga, pouco terá ficado a dever ao de 1755. No entanto, a cidade não era tão grande, nem tão populosa, embora para a época, fosse considerada de enorme dimensão – teria cerca de 100 mil habitantes (contra os 275 mil de 1755). As zonas da cidade que foram atingidas não terão também sido as mesmas. Como exemplo desta afirmação, o Hospital de Todos os Santos, no Rossio, não ficou significativamente danificado, vindo porém a desaparecer no sismo de 1755. Sabe-se também que, embora com menos danos registados, o Ribatejo e o Alentejo foram regiões duramente atingidas. Desde o dia 7 que se verificavam abalos, mas o mais grave foi o de 26 quando, ao princípio da madrugada, a terra tremeu por três vezes. Não há registo de maremoto, tsunami ou grandes incêndios, como na catástrofe de 224 anos depois. Em todo o caso, o número de vítimas que a tradição consagra é o de 30 mil. Tendo em conta a população da cidade, foi igualmente uma tragédia de grandes dimensões. Por outro lado, as fontes de informação disponíveis para estudar o terramoto de 1755, não são tão copiosas para o de 1531. Sabemos, no entanto, que houve danos muito consideráveis. Na principal rua de Lisboa, a Rua Nova, tombaram varandas e muitos dos edifícios abriram enormes fendas. Uma parte do palácio real, o Paço da Ribeira, sofreu grandes estragos. A Torre de Belém e o Mosteiro de Belém (Jerónimos) foram também duramente atingidos. António de Castilho, filho do arquitecto João de Castilho, descreveu os estragos em Lisboa, particularmente no Rossio, onde caiu a Igreja de Nossa Senhora da Escada., uma parte do Paço dos Estaus (onde se acolhiam os altos dignitários estrangeiros), parte das naves do Convento de São Domingos (onde está hoje o Teatro de D. Maria II). Houve danos na Sé, no Convento do Carmo, na Igreja de São João da Praça e, como já, disse, numa ala do Paço da Ribeira. De notar que o Bairro Alto, um dos primeiros bairros europeus a ser construído com planta em quadrícula, foi edificado para responder à destruição provocada pelo terramoto de 1531. Especulação sobre os terrenos, comprando quase de graça e vendendo depois por preço elevado, foi o negócio de um tal Duarte Belo (de que ainda existe memória numa Rua da Bica Duarte Belo, aquela que é percorrida pelo elevador da Bica). Era um armador e negociante que possuía na Boavista (onde fica hoje a rua do mesmo nome) umas casas e um terreno no qual existia uma bica, designada pelos seus utentes como «Bica dos Olhos ». Em 1726, publicava-se em Lisboa no «Arquipégio Medicinal» um anúncio recomendando, como remédio infalível para terçolhos e outros males da vista, a lavagem dos olhos na «Bica do Duarte Belo ». Tinha de ser antes do Sol nascer, para garantir a cura. O rei D. João III que estava no Paço de Benavente, teve ir para Alhos Vedros e depois para Azeitão, porque os seus aposentos de Benavente ficaram destruídos. Em Santarém, na Castanheira, em Vila Franca de Xira, na Azambuja, onde sacudidos pelo sismo os sinos tocaram sozinhos, no Lavradio, em Setúbal. Digamos que o terramoto de 1531 afectou toda a região de Lisboa e o vale do Tejo. Os testemunhos, muito mais escassos do que os de 1755, existem, no entanto: Além do já citado António de Castilho, há uma carta de um anónimo castelhano ao marquês de Tarifa, Fradique Enríquez de Ribera, descrevendo as destruições em Lisboa, nomeadamente na Rua dos Fornos, onde ruíram numerosas casas e as da Rua Nova. Na carta, descrevia-se também o pavor da população lisboeta que dormia vestida para poder fugir ao primeiro sinal de novo sismo. Como disse Garcia de Resende na sua »Miscelânea», referindo-se também a este terramoto:



  «Todos com medo que haviam

deixaram casas, fazendas;
nos campos, praças dormiam
em tendilhões e em tendas,
casas de ramas faziam;
as mais noites velando,
temendo e receando;
porque tremor não cessava;
a gente pasmada andava
com medo, morte esperando».


 
Em 1755, a par com as «explicações» tradicionais – castigo divino pelos desmandos humanos – surgiram abordagens diferentes, científicas umas (com os naturais limites da ciência contemporânea) e outras procurando explicar racionalmente o que sucedera. Em 1531, o estado dos conhecimentos sobre o mosaico multidisciplinar que permite compreender fenómenos naturais desta natureza, era mais do que incipiente. No entanto, quando frades de Santarém relacionaram os danos verificados na cidade pela presença de judeus, ou melhor, de «cristãos novos», visto que os judeus haviam sido expulsos no reinado de D. Manuel, Gil Vicente combateu esta tentativa de culpabilizar os hebreus, numa carta que leu perante os próprios frades, atacou as prédicas dos clérigos que aterrorizavam os fiéis anunciando-lhes que os cataclismos eram resultado da ira divina contra os pecados dos homens. Com o mesmo esclarecedor objectivo, escreveu uma carta a D. João III condenando a perseguição aos judeus. Curioso o facto de, em 1755, uma das tais «explicações» encontradas para o sismo, tenha sido a das perseguições feitas aos judeus, a par com hábitos debochados importados de França e de Itália e com a proibição de os crentes lerem a Bíblia.




de Carlos Loures

 
Poema em ladino



sefarad mito


LAS PALABRAS


Las palabras
devienen madeshas
las vo despiegando
las vo rodeando
hasta que piedren su senso
locas de no ser.
Yo las amaso de muevo

y les do vivenza,
nacen a ser mi pan,
nacen a ser mi vino,
no se arugan
en el tiempo
de la zona eternel.


Margalit Matitiahu

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Sugestão musical da semana



O grupo português de música 
klezmer, os "MELECH MECHAYA".



Melech Mechaya






Efeméride



A 9 de Março do ano de 1244, o Papa Inocêncio IV
ordena que o Talmude seja queimado publicamente, por considerar um livro demasiadamente "perigoso".







terça-feira, 8 de março de 2011

Iluminuras




 Image:Spanishhaggadah.jpg


Hagadah, livro utilizado no serviço da noite de Pessach, e que narra as diversas passagens do povo
hebreu na sua libertação da escravatura do Egipto.
Exemplar do século XIV, Espanha.






Ilustração de um Seder (ceia festiva de Pessach), século XIV, Espanha.



"Sei que vou morrer infeliz.
E comigo o meu País.
Clamo aos sete ventos ajuda
E o vento nada me diz..."


Marquês de Pombal




Vestígios e memórias do passado (Parte V)





Judiaria




Área onde habitavam e se recolhiam os judeus após o toque do sino da igreja ao anunciar as avé-Marias; ou vésperas, ficando os seus moradores impedidos de sair, exceptuando um motivo de força maior, como o caso de um médico judeu ser chamado para acudir a algum paciente cristão.
Em todas as judiarias do reino, estas podiam, ou não, ser encerradas com portões e guardadas por homens armados, cristãos no exterior, e os bedin no seu interior.
Estas comunas possuíam autonomia nos seus assuntos internos, havia os muccaddamim (anciãos), e os dayyanim (juízes).
A sinagoga era não só o centro espiritual de toda a kahal, como o local onde se buscava a possível segurança e protecção de ataques vindos do exterior da comuna.



A partir de 1492, o número de judiarias já existentes em Portugal cresce em área habitada, devido ao seu grande número de habitantes, na sua maioria deles refugiados vindos de Castela, mas também novas comunidades são fundadas na raia fronteiriça.
Évora por exemplo, tinha 1000 habitantes judeus até 1492, e um ano depois, passa a ter 3000 almas.
Com a chegada massiva de judeus espanhóis a Portugal, as primeiras grandes manifestações populares de anti-judaísmo surgem quase espontaneamente, nascem novas designações na toponímia das ruas, as mesmas onde os judeus viviam.
Em Évora, a rua principal da judiaria passou a chamar-se "Rua dos Tinhosos". Já na capital do reino, Lisboa, nasce um termo bem específico, "O Poço dos Cães", e na Covilhã, a "Rua Suja".


* Segunda a historiadora Maria José Ferro Tavares, em Portugal viveriam até finais do século XV, aproximadamente 30 a 40 mil judeus portugueses, 3 a 4% da população nacional.
Com os descobrimentos portugueses chegam judeus de toda a Europa, ávidos de riqueza e da aventura própria da conquista, mas também fascinados com o cosmopolitismo de uma Lisboa impregnada de novos odores, e das múltiplas oportunidades no comércio marítimo.
Mas foi com a vinda de milhares de famílias de judeus expulsos de Espanha (pensa-se que terão entrado entre 120 mil a 150 mil judeus), que a população hebraica passou a ser 15% do total nacional. 





A casa do judeu e pormenor da janela - Linhares da Beira.






Judiaria de Tabuaço.



05|05|08


Mira-Gaia


Kahal em hebraico significa congregação, daí a transformação para o grego eklesia, dando posteriormente origem à palavra igreja.


* "Judaísmo em Portugal" - Centro Nacional de Cultura - Lisboa, 1997



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