terça-feira, 8 de março de 2011

Vestígios e memórias do passado (Parte V)





Judiaria




Área onde habitavam e se recolhiam os judeus após o toque do sino da igreja ao anunciar as avé-Marias; ou vésperas, ficando os seus moradores impedidos de sair, exceptuando um motivo de força maior, como o caso de um médico judeu ser chamado para acudir a algum paciente cristão.
Em todas as judiarias do reino, estas podiam, ou não, ser encerradas com portões e guardadas por homens armados, cristãos no exterior, e os bedin no seu interior.
Estas comunas possuíam autonomia nos seus assuntos internos, havia os muccaddamim (anciãos), e os dayyanim (juízes).
A sinagoga era não só o centro espiritual de toda a kahal, como o local onde se buscava a possível segurança e protecção de ataques vindos do exterior da comuna.



A partir de 1492, o número de judiarias já existentes em Portugal cresce em área habitada, devido ao seu grande número de habitantes, na sua maioria deles refugiados vindos de Castela, mas também novas comunidades são fundadas na raia fronteiriça.
Évora por exemplo, tinha 1000 habitantes judeus até 1492, e um ano depois, passa a ter 3000 almas.
Com a chegada massiva de judeus espanhóis a Portugal, as primeiras grandes manifestações populares de anti-judaísmo surgem quase espontaneamente, nascem novas designações na toponímia das ruas, as mesmas onde os judeus viviam.
Em Évora, a rua principal da judiaria passou a chamar-se "Rua dos Tinhosos". Já na capital do reino, Lisboa, nasce um termo bem específico, "O Poço dos Cães", e na Covilhã, a "Rua Suja".


* Segunda a historiadora Maria José Ferro Tavares, em Portugal viveriam até finais do século XV, aproximadamente 30 a 40 mil judeus portugueses, 3 a 4% da população nacional.
Com os descobrimentos portugueses chegam judeus de toda a Europa, ávidos de riqueza e da aventura própria da conquista, mas também fascinados com o cosmopolitismo de uma Lisboa impregnada de novos odores, e das múltiplas oportunidades no comércio marítimo.
Mas foi com a vinda de milhares de famílias de judeus expulsos de Espanha (pensa-se que terão entrado entre 120 mil a 150 mil judeus), que a população hebraica passou a ser 15% do total nacional. 





A casa do judeu e pormenor da janela - Linhares da Beira.






Judiaria de Tabuaço.



05|05|08


Mira-Gaia


Kahal em hebraico significa congregação, daí a transformação para o grego eklesia, dando posteriormente origem à palavra igreja.


* "Judaísmo em Portugal" - Centro Nacional de Cultura - Lisboa, 1997



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