quinta-feira, 17 de março de 2011

A lenda de uma judia de nome Ofa



Haverá por acaso lugarejo, vila ou cidade em Portugal, que não preze ter nas suas ancestrais memórias lendas referentes a "mouras encantadas" ?
Será muito raro com certeza. Já sobre "judias encantadas" o caso muda de figura. Mas há factos na nossa história, e algumas lendas, de como estas últimas, reviraram completamente do avesso a alma e o coração de alguns venustos cavaleiros cristãos.
Conto-vos hoje a lenda da Serra da Marofa, serra esta, que se situa na Beira Interior, distrito da Guarda, município de Figueira de Castelo Rodrigo.



"Amar Ofa"


Com a expulsão dos judeus no país vizinho, muitas foram as famílias que atravessaram a nossa fronteira. Beneficiou desse enorme êxodo o nosso reino, e D. João II, que afortunadamente matou dois coelhos de uma só vez: os cofres encheram-se de moedas das portagens pagas por cabeça, e ficamos com mesteirais especializados em muitas artes necessárias à expansão em curso.
Numa dessas famílias de judeus vindos de Espanha, havia uma linda moça de nome Ofa.


Esta família terá decidido construir o seu novo lar numa das encostas da serra. Perante tal beleza, as notícias de alguém tão formoso ecoaram rapidamente pela região, até chegarem aos ouvidos do filho de um fidalgo português, que ao conhecer Ofa, se apaixonou perdidamente pela donzela.

Porém, novos e terríveis factos políticos alteraram para sempre o curso da história nacional. Em 1496, quatro anos depois da chegada destes milhares de refugiados, o novo rei D. Manuel I decretava a conversão forçada, ou, a expulsão de Portugal de todos os judeus que não aceitassem a religião de Cristo.



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A família de Ofa decidiu ficar, convertendo-se à nova fé, e assim, tornaram-se cristãos-novos, algo que há muito o jovem fidalgo desejava ardentemente. Contente, D. Luís pediu a mão da sua amada à família desta, ao mesmo tempo, que sabia do desgosto que provocava na sua própria família. Indiferente a tudo e a todos, este cavaleiro tinha o hábito de cavalgar até à serra, (vai-se lá saber o porquê) e aí, dava azo à sua enorme felicidade, gritando bem alto. "Vou amar Ofa/Vou amar Ofa".
Após muitas peripécias, os noivos acabaram por se casar no Mosteiro de Santa Maria de Aguiar.

Ficou para sempre a lenda e a designação de "Serra da Marofa", uma justa homenagem ao amor entre uma judia e um cristão.



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