É muito interessante verificar ainda hoje o que ficou da herança dos judeus e cristãos-novos por terras lusitanas, e isso aplica-se a mim próprio, com tradições que me foram ensinadas, mas não explicadas do motivo e das suas origens.
Tanto nas Beiras como também em Trás-os-Montes, era costume até há bem pouco tempo as mulheres se reunirem nas casas umas das outras, para prática de rezas, ou na recitação de orações especiais: a isso costumava-se designar "fazer sinagoga".
A "gente da nação"orgulhava-se de seguir o preceito que às terças e sextas, só judeus podiam cortar as unhas e fazer a barba.
Há o ritual, e fui testemunha disso mesmo em 2010, em Valpaços, relativamente à tradição de alguns lavradores de cortarem as pontas das árvores, seguindo a determinação do Levítico, (Vayikrá): "Quando entrares na terra e plantares nela árvores frutíferas, cortar-lhes-ás os seus prepúcios: os primeiros frutos que produzirem serão imundos para vós, e não comereis deles..."
Só os homens podem recolher esses primeiros frutos, que não são comidos.
Em Argozelo, o investigador Amílcar Paulo recolheu há muitos anos uma tradição levada a efeito por mulheres mais idosas, onde durante oito dias, as mesmas traziam na Páscoa um crucifixo preso à saia, e ao caminhar declamavam que: "Quanto mais te arrasto, mais vontade tenho de te arrastar."
Já na zona de Rebordelo e Vinhais, ficou a designação de "góios", nome atribuído pelos cristãos-novos aos restantes cristãos-velhos. Aqui, podemos observar uma clara adulteração do
termo "goim", nome dado pelos judeus às pessoas de outras religiões.
Em Bragança há também o termo de "trefe", mais uma adulteração para o português da palavra hebraica de "trefá", impuro.
Este blog permanecerá sempre actual e atento na recolha e divulgação dos costumes da nossa gente. Refiro-me especialmente há presença dos "Anussim" em Portugal.