Lisboa desvenda-se a cada
instante
e em cada esquina.
Nesta fonte que fala na surdina
De qualquer coisa que eu não sei ouvir
Matei agora mesmo a minha sede
E sentei-me ao pé dela a descansar.
Não havia no ar mais do que a luz
Finíssima da tarde num adeus...
Uma luz moribunda e solitária
A despedir-se frágil pelos céus.
E à medida que a luz se diluía
Nas sombras que nasciam lentamente
A fonte no silêncio mais se ouvia,
Mais límpida, mais pura e mais presente...
Anoiteceu. Ninguém. Só a voz dela,
Só essa voz... Ao longe, num desmaio
O timbre vivo e pálido de um grito...
Levantei-me. Deixei-a. Tristemente
Acendeu-se uma estrela no infinito.
em Canções e outros poemas - António Botto - Quasi
desenho da:
urbansketchers-portugal.blogspot.pt