Com o funesto Édito de 1496, D.Manuel I estabelecia que judeus e mouros saíssem de Portugal, caso se recusassem a conversão à fé cristã. Como primeira consequência do decreto, despovoaram-se comunidades inteiras e muitos foram obrigados a sair do país. O facto, é que nem todos partiram para outros paragens. Judeus houve, que se converteram e aceitaram a conversão, uns por medo, outros, por convicção, tornando-se cristãos-novos.
Dos que aparentemente aceitaram as águas da pia baptismal, muitos foram os casos de conversão dissimulada: eram cristãos de aparência, por fora católicos devotos mas judeus na sua essência. Famílias penetraram nas regiões agrestes de Trás-os-Montes e Beiras, estabeleceram-se nas suas antigas profissões, vivendo uma vida dupla, muitos deles até aos nossos dias.
A Rádio Televisão Portuguesa é detentora nos seus arquivos de autênticos "tesouros", filmes e documentários sobre tradições de um Portugal rural, onde ainda era fácil reconhecer quem era quem nas aldeias e vilas do país.
Documentário da RTP dedicado a Argozelo (1973)
Imagem retirada de: bartolomeuargoselo.blogspot.pt
Dedicando a sua atenção sobre os peliqueiros, os curtumes, as minas, a agricultura, o carteiro, as mulheres à soleira da porta e as figuras castiças da terra, é um documento precioso da realidade vivida em Argozelo há mais de 40 anos, sem esquecer a paisagem envolvente e as canções da cultura popular.
E claro, a herança judaica e a entoação e o modo de falar característicos de Argozelo que ainda hoje se mantêm:
"- Há entre vocês alguém que ainda seja judeu?
"- Somos todos.(...) O judeu é a esperteza maior do mundo..."
http://www.rtp.pt/arquivo/index.php?article=1621&tm=26&visual=4