A ambição política do rei português D. Manuel I em unificar sob o seu domínio toda a Península Ibérica, leva-o a casar com a filha mais velha dos reis católicos, D. Isabel.
Como seus pais, a princesa espanhola era uma fervorosa católica, impondo numa missiva ao rei D. Manuel a condição de:
" Que não poria o pé em solo português, enquanto todo o país não estivesse limpo dos odiosos judeus".
D. Isabel de Aragão e Castela.
A bandeira nacional durante o reinado de D. Manuel I.
Casaram em finais de 1496 (Novembro) e logo em princípios de Dezembro, dá-se o decreto de expulsão dos judeus e mouros do reino de Portugal, tendo como data limite para a sua saída, os finais de Outubro de 1497, isto no espaço de 10 meses, na condição de optarem pelo baptismo e conversão à fé cristã, ou na saída definitiva do país, caso não o fizessem, sujeitavam-se à pena de morte e à confiscação dos bens.
Em Fevereiro de 1497, três meses após o decreto de expulsão, é colocado este problema e suas consequências no Conselho de Estado, realizado na cidade de Estremoz, onde surgiram várias opiniões sobre o tema.
Estremoz.
Fotografia de Pedro Correia - www.portugal-book.com
É de salientar a tese defendida pelo bispo de Silves, D. Fernando Coutinho que afirmou o seguinte:
"(...) todas as medidas de força e perseguição não conseguiram transformar um único judeu em verdadeiro cristão.
(...) todos os sábios e também o menos sábio do que todos, provamos por meio de diversas decisões judiciais e com provas de autoridade, que não se pode obrigar os judeus a aceitar uma religião que, como a cristã, requer e exige a liberdade e não a violência."
Kayserling, Meyer - "História dos Judeus em Portugal", 1867, tradução portuguesa e comentários de Anita Novinsky , 1961, pág.112.
Parece que em Portugal havia ainda quem conhecesse a verdadeira doutrina da Igreja, opondo-se ao odioso fanatismo que teimava em difundir-se na maioria dos sectores eclesiásticos. Contudo, tratava-se de uma voz sensata, mas que infelizmente se diluiu completamente no enorme barril da intolerância e do preconceito.
A expulsão de 1496/97, acarretou graves consequências económicas e sociais para Portugal, isso já todos sabemos pelos livros de história e pelos debates e documentários sobre a matéria, porém, é na leitura de algumas crónicas, que tomamos consciência da verdadeira tragédia pessoal ocorrida em tantas famílias. O abandono dos seus lares e bens, a coação por meio da violência, o desespero pelo futuro incerto e os dramáticos suicídios que por este país aconteceram.
Abril do ano de 1497, D. Manuel, que se encontrava na cidade de Évora, ordenou que no domingo de Páscoa, fossem retirados à força os filhos de judeus, rapazes e raparigas, menores de 14 anos e disseminados pelas vilas e cidades do reino, para serem educados na fé católica.
Iluminura da cidade de Évora atribuída a Duarte d'Armas.
Foral manuelino de Évora, 1501,
Arquivo Municipal de Évora.
Numa segunda fase, o decreto passou também a incluir jovens com 20 anos, ordenando o baptismo à força.
Muitos cristãos chegaram a esconder os jovens em suas casas. Alguns pais mataram seus filhos.
Na Guarda deu-se um hediondo crime, indicado por J. Mendes dos Remédios:
"Haviam roubado a um pai os seus quatro filhos, que foram entregues a um vizinho cristão para os guardar. O judeu conseguiu que ele lhe deixasse ir uma noite a casa e logo que os apanhou adormecidos, bem como a mãe, degolou-os a todos, suicidando-se em seguida."
Remédios, J. Mendes dos, "Os Judeus em Portugal" I Volume, op.cit., pág. 292
Transcreve a apologia em abono dos cristãos cognominados "de novos deste reyno de Portugal", dedicado à santidade de Urbano XVIII, Pontífice Supremo, idem, pág. 52.
Fonte
“Gente de Nação Além e Aquém do Côa (Judeus Sefarditas)”, da autoria de Adriano Vasco Rodrigues e Maria da Assunção Carqueja