Judeus entre Portugal e Marrocos nos séculos XVI e XVII
Páginas de controvérsias e entendimentos
José Alberto Rodrigues da Silva Tavim
Instituto de Investigação Científica Tropical
Casa de judeus em Mogador (actual Essaouira), de Darondeau (1807 - 1841).
Mellah de Tetuão. Gérard Sylvain in «Sépharades et
Juifs d'ailleurs»,
Adam Biro, Paris, 2001
Bairro Judeu de Tetuão em 1950.
Mellah de Taza - norte de Marrocos.
Foto: www.postcardman.net
Os judeus estiveram presentes desde as primeiras conquistas portuguesas
em Marrocos, chegando a formar comunidades autorizadas e privilegiadas nas
cidades de Safim e de Azamor, até ao seu abandono em 1541.
Tiveram um papel fundamental, nomeadamente no plano económico, para a
sobrevivência das praças que Portugal deteve na costa de Marrocos, mas também
nas trocas comerciais e nas relações diplomáticas que se foram traçando entre
os dois lados do Estreito de Gibraltar.
A presença de judeus e conversos ibéricos em Marrocos, e de judeus
marroquinos na Península Ibérica – aqui, evidenciando livremente o seu
estatuto, ou apresentando também uma versão de convertidos ao Cristianismo –
permitiu igualmente uma sobrevivência multifacetada da identidade judaica. No
caso da Península, elucidando na medida do possível os conversos sobre factos e
práticas do Judaísmo, e montando redes de fuga o Norte de África. No caso de
Marrocos, continuando a esmerar-se numa cultura e num pensamento
sócio-religioso com raízes peninsulares, e cujos resultados darão forma, em
parte, às elaborações identitárias de comunidades judaicas exteriores tão
importantes, como a de Amesterdão.
E embora a presença concreta de Portugal em Marrocos tenha sido débil
a partir da data acima referida, séculos de convivência ali e, outrora, na
Península Ibérica, fizeram com que no século XIX, fossem os judeus marroquinos
entre os primeiros a regressar a este país, ocupando um "espaço"
sócio-cultural e económico quiçá similar, e dando de facto início á moderna
comunidade judaica portuguesa.
Via: www.instituto-camoes.pt
(Enviado por Margarida Castro)