quinta-feira, 8 de maio de 2014

Histórias de Lisboa antiga




Os hospitais medievais de Lisboa -  Hospital de Salomão Negro




É um facto que, numerosos judeus já viviam no que é hoje o território português muito antes da fundação da nacionalidade até ao século XV. Tendo a comunidade hebraica um importante papel na sociedade portuguesa, nomeadamente junto do rei, aconteceu que, por força do contrato de casamento de D. Manuel I com a filha dos Reis Católicos, os judeus foram obrigados à conversão ao cristianismo ou à expulsão de território nacional, em 1497. A comunidade judaica circulava livremente pelo território mas estava sujeita a leis de apartamento, em que as habitações teriam de se concentrar num determinado local; no entanto, eram livres de manter e praticar a sua religião e possuíam magistratura própria para o julgamento dos seus crimes, sem que fosse esquecida a sua submissão às ordenações gerais do país. Obrigados a viver nas cidades apartados de cristãos e muçulmanos, os judeus habitavam nas diversas Judiarias de Lisboa. Inicialmente, as judiarias comunicavam livremente com o exterior, mas D. Pedro I decretou que fossem encerradas por portas, as quais se encerravam ao anoitecer, para serem novamente abertas ao nascer do sol. A Judiaria Velha ou Judiaria Grande de Lisboa localizava-se na freguesia da Madalena, num espaço limitado geograficamente pelas igrejas de S. Nicolau a oeste, Madalena a oriente, S. Julião a norte e rua Nova dos Mercadores a sul.[1] A comunidade judaica possuía escolas próprias, cultivando os estudos de Astrologia, Matemática, Geografia, Medicina e Cirurgia; tendo longa tradição no exercício da Medicina, vários médicos judeus progrediam com altos cargos na corte portuguesa.  Chegou-nos o conhecimento de muitos médicos importantes como Moshe Gedaliah ibn Yahya ou Moisés Navarro de Santarém (físico de D. Pedro I), Gadaliah ibn Yachya ha-Zaken (físico-mor de D. Fernando), Yehudah ibn Menir ibn Yahya / Navarro (tesoureiro e físico de D. Pedro I e D. João I), Moshe Navarro, também conhecido por Mestre Moussem (físico de D. João I), Gedaliah ben Shlomo ibn Yahya ou Mestre Guedelha (físico e astrólogo de D. Duarte e D. Afonso V) e Abraham Guedelha ou Mestre Abram (físico-mor da princesa D. Beatriz, cunhada de D. Afonso V[2]).






Lisboa - Gravura de Braun e Hogenberg, 1572.




No contexto das leis de apartamento, torna-se natural que a abastada comunidade judaica possuísse hospitais próprios, sendo que o local mais apropriado em Lisboa se situasse na Judiaria Grande; tomámos conhecimento de dois hospitais situados nesse bairro de judeus, sendo um deles hospital de banhos e o outro conhecido como Hospital de Salomão Negro. Este último encontrava-se localizado na Rua da Praça, ao Poço da Foteia, na área actualmente situada entre a Rua do Comércio e a Rua de S. Julião. Foi fundado por Shlomo ibn Yahya ben David, também conhecido como Salomão Guedelha ou Salomão Negro, judeu (1367-1430), que o legou, com mais bens, à comuna dos judeus.O hospital foi incorporado no Hospital de Todos-os-Santos[3]  cerca de 1503.


[1] João Silva de Sousa, Mouros e Judeus na Cidade de Lisboa nos séculos XIV e XV, http://triplov.com/letras/Joao_Sousa/mouros-e-judeus/index.htm
[2] Reuven Faingold, Judeus nas cortes Reais Portuguesas, www.reuvenfaingold.com/artigos/12.pdf
[3] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 11





Via: 
http://lisboaantiga.blogspot.pt/2012/10/os-hospitais-medievais-de-lisboa.html