Após a descoberta de São Tomé e Príncipe* pelos portugueses em 1470, e sob o controlo arrendatário de Fernão Gomes, o facto é de que a sua colonização não foi imediata e constante.
Rei D. João II de Portugal
(1455 – 1495)
Resende na sua crónica de "D. João II", cita que o rei, estando em Torres Vedras a 29 de Julho de 1493, "deu a Álvaro de Caminha, cavaleiro de sua casa, a capitania da ilha de São Tomé, de juro e herdade, com cem mil reais de renda cada ano pagos na Casa da Mina".
Esta carta de doação passada em Torres Vedras ao novo donatário, obrigava-o a promover o povoamento das ilhas bem como incrementar o cultivo da cana do açúcar, importado da ilha da Madeira.
Gravura representando a cidade do Funchal.
Engenho da cana do açúcar.
(Museu Madeira Story Center)
Do blogue geia-deusaterra.blogspot.pt de Artur Amaral.
Diogo
Vaz de Teive, escudeiro do Infante D. Henrique, é responsável pelo primeiro
engenho de açúcar registado na ilha da Madeira , 5 de Dezembro de 1452.
O
engenho foi construído na Ribeira Brava e era movido a água.
A cana foi a grande responsável pela instalação de pessoas e para o desenvolvimento económico local.
Uma coisa é certa, cem anos depois, existiam em São Tomé mais de 60 engenhos de açúcar e uma enorme quantidade de escravos africanos para trabalhar nos mesmos.
Porém, há um acontecimento que irá denegrir a partida de Álvaro de Caminha para São Tomé e Príncipe, e o facto a que me refiro, prende-se com a partida forçada de crianças judias de origem espanhola como povoadores, onde, já anteriormente duas donatarias tinham fracassado, devido às difíceis condições do clima.
Mapa holandês da ilha de São Tomé.
Retirado de: www.revistamilitar.pt
(Revista Militar)
D. João II ordena que juntamente com Álvaro de Caminha, sigam alguns casais possuidores de escravos, muitos degredados (condenados a degredo por crimes de sangue), podendo cada um destes levar um escravo ou escrava negra, bem como duas mil crianças e jovens de ambos os sexos, retirados à força dos seus pais e baptizados antes de embarcarem.
(Filhos e filhas de judeus vindos de Espanha, que entraram em Portugal no ano de 1492).
Expulsão dos judeus de Espanha.
(Biblioteca Nacional de Madrid).
O professor J.Mendes dos Remédios, no seu livro “Os Judeus em Portugal”, Coimbra, 1895, descreve o seguinte:
“…D. João II mandou tirar aos pais as filhas e filhos pequenos. Deram-se então cenas desesperadas.Tinham arrancado a uma Mãe os seus sete filhos. A desgraçada sabendo que o rei se dirigia à igreja, sai-lhe ao encontro e lançando-se à frente dos cavalos que puxavam o coche real, suplica entre lágrimas que lhe dêem pelos menos o mais novo dos filhos…Afastai-a da minha presença ! disse o rei, e como as súplicas aumentassem, foi necessário afastá-la à força.- Deixai-a, afirmou D. João II, ela é como uma cadela a quem roubaram os cachorros…”
Se porventura foi intenção do rei português colonizar São Tomé com crianças brancas e de sangue judeu, para de algum modo assegurar um futuro na gestão dos engenhos das plantações, originando gente leal e empreendedora para benefício da coroa portuguesa, como defende Imanuel Aboab na sua obra "Nomologia", enganou-se redondamente, pois a grande maioria das crianças morreu devido às doenças, ao duro clima e aos perigosos animais.
Em princípios do século XVI, Duarte Pacheco Pereira escreve sobre as muitas vantagens de São Tomé, mas não esquece dos reais perigos das ilhas: "E assi há aqui muitas e muito boas laranjas e limões e cidras; e outras árvores se dão aqui muito bem. Há aqui muitos e grandes lagartos que andam nas ribeiras de áugua doce e assi no mar, que comem os homens. Também há aqui as bíboras, negras pelas costas e brancas pela barriga, da grossura da perna de um homem, maravilhosamente peçonhentas; e sua longura é conveniente à sua grossura".
Em 1506, estariam apenas vivas 600 crianças.
Este episódio é uma das muitas páginas negras da nossa história como nação.
*Duas ilhas principais e várias ilhotas de pequena dimensão, localizadas na costa ocidental de África, conhecidas na época como as Ilhas dos Lagartos.
Fontes: www.coisasjudaicas.com
http://lusotopia.no.sapo
http://ler.letras.up.pt