A Lisboa medieval possuiu pelos menos 4 judiarias, que ao longo dos séculos conviveram quase lado a lado, independentemente da sua cronologia histórica, do século XIII ao século XV.
A Grande Judiaria ou a Judiaria Velha de Lisboa, situava-se entre as actuais igrejas da Madalena e de S. Nicolau, entre as antigas ruas da Correaria, Ferraria, Tinturaria, Ourivesaria e a rua Nova de El Rei.
Possuía uma sinagoga principal e outras sinagogas menores, câmara da vereação, tribunal, escola para crianças e de estudos rabínicos, biblioteca e hospitais, como o de Salomão Negro.Tinha também cadeia, açougue e estalagem, e até local para a mancebia (prostituição).
Igreja da Madalena
Fundada no século XII por ordem do rei D. Afonso Henriques, junto à muralha moura. Em 1363 sofre um incêndio, tendo o rei D. Fernando I mandado reconstruí-la. Em 1600, novo percalço, um ciclone e no ano de 1755 é destruída pelo terramoto.
Fundada no século XII por ordem do rei D. Afonso Henriques, junto à muralha moura. Em 1363 sofre um incêndio, tendo o rei D. Fernando I mandado reconstruí-la. Em 1600, novo percalço, um ciclone e no ano de 1755 é destruída pelo terramoto.
O portal desta igreja em estilo manuelino, pensa-se que tenha vindo da igreja da Conceição dos Freires, também destruída pelo terramoto, (antigo local da grande sinagoga).
Fotografias da www.monumentos.pt
As suas fundações como edifício provém segundo alguns estudiosos das ruínas de um templo romano, dedicado à deusa Cibele. Foram encontrados perto deste local quatro lápides romanas e não muito longe, vestígios sepulcrais do final do império, (século IV-V).
A grande sinagoga de Lisboa foi construída entre os anos de 1306 e 1307, mandou-a edificar D. Judah, filho de D. Guedelha, rabi-mor do rei D. Dinis. Esta sinagoga maior, teria como espaço quatro corpos de colunas, dois deles junto às paredes, e os restantes a separar a nave central das duas laterais, isto segundo o testamento de Ester, viúva de Nacim Faim.
Os relatos históricos apontam para um edifício sumptuoso para a época, teria talvez semelhanças com a sinagoga de Santa Maria la Blanca de Toledo, (Espanha).
Placa da sinagoga grande de Lisboa, actualmente no Museu Abraham Zacuto em Tomar.
Fotografia de Rafael Baptista
Um médico alemão de nome Jerónimo Muenzer, que visitou Lisboa em 1494, refere-se ao seu interior como decorado com extrema beleza, com uma nítida influência islâmica na sua arquitectura. Possuía um enorme púlpito para os sermões, e tinha pelo menos dez enormes candelabros com 50 a 60 lâmpadas cada um, para além de muitos outros de menores dimensões.
O edifício foi a partir de 1496 purificado e transformado em templo católico, dedicado à senhora da Conceição, (dos freires) que aí se situaria até 1755, ano da sua destruição.
Segundo Samuel Schwarz e Augusto Vieira da Silva, esta sinagoga estaria situada na antiga rua da Princesa, (actual rua dos Fanqueiros) e na esquina com a rua dos Mercadores, localizada a meia distância entre as actuais ruas de S.Nicolau e da Conceição.
Sinagoga Santa Maria la Blanca de Toledo.
www.viajesylugares.es
Com D. Pedro I, que cumprindo directivas do Concílio de Latrão, passou a obrigar os judeus a viver encerrados em judiarias, separados dos cristãos. Por seu turno, D. João I decreta que um sinal distintivo de cor vermelha, (estrela de seis pontas) e de tamanho de um selo régio, seja posto nas vestes dos judeus, sob pena de prisão, açoites e perda de roupa.
No século XV, os cristãos chegam a pedir às cortes a transferência das judiarias para uma zona que é hoje os Restauradores e a Avenida da Liberdade.
Antecedentes do Massacre de 1506
No século XV acontecem dois assaltos às judiarias de Lisboa.
Surgem crónicas desses acontecimentos trágicos.
1449 - Um grupo de jovens cristãos terão ofendido alguns judeus junto à Ribeira, feita a respectiva queixa, os culpados foram açoitados publicamente, o que enfureceu a turba cristã, clamando imediata vingança.
A judiaria grande foi assaltada, morreram vários judeus, tendo as suas casas sido vandalizadas e saqueadas. D. Afonso V que estava em Évora, veio de imediato para Lisboa para pôr termo ao ataque.
1482 - Novo assalto sem grandes perdas de vidas e bens, exceptuando a destruição da biblioteca de Isaac Abravanel.
A 24 de Maio de 1504, quarenta jovens cristãos-velhos insultaram na rua Nova um grupo de cristãos-novos. Os jovens foram detidos e posteriormente açoitados, sendo depois condenados ao degredo em S.Tomé.
1505 - 1507 - Há peste em Lisboa.
No dia 19 de Abril de 1506, e segundo um relato anónimo de um alemão que estaria dentro da igreja de S. Domingos: "...Haveria uma cruz com um espelho no meio, então, surge a imagem de Maria a chorar ajoelhada em frente a Jesus, e por cima da cruz, surgiram luzes pequenas e uma grande..."
Damião de Góis fala-nos de um possível reflexo de uma vela.
Ibn Verga refere o questionar por parte de um cristão-novo, sobre o porquê:"... Que o dito céu não realizava o milagre da água, mais do que o fogo ?..." aludindo há rigorosa seca que então se vivia.
O cristão-novo é de imediato arrastado e morto.
As horas seguintes são uma autêntica orgia de terror e morte.
O magistrado acompanhado por alguns homens armados fogem da populaça. Enquanto isso, frades dominicanos gritavam bem alto: "...Que quem matar a descendência de Israel, tem garantia de 100 dias de absolvição no mundo que há-de vir.."
Surgem fogueiras na Praça de S. Domingos, Rossio, e Terreiro do Paço.
1ºdia - Matança de todos os cristãos-novos que viam nas ruas.
2ºdia - Pilhagem e retirada das pessoas que se tinham refugiado em suas casas. Um dos alvos foi D. João Rodrigues Mascarenhas, escudeiro do rei, e detentor de muitos direitos de alfândega nos principais portos do reino.
Ilustração alemã, retratando a matança de 1506 em Lisboa.
Armas de D.Manuel I.
O rei D. Manuel que estava em Abrantes, envia Aires da Silva, regedor da justiça e D. Afonso de Castro, governador da casa cível de Lisboa.
Ambos são impedidos de entrar na cidade, ficando retidos às portas de S. Vicente de Fora. Só depois com o pregão do confisco de bens, é que conseguem entrar na cidade.
No dia 24 de Abril, o rei ordena a D. Diogo de Almeida, prior do Crato, e D. Diogo Lobo da Silva, barão do Alvito, a virem a Lisboa com o objectivo de restabelecer a ordem na cidade.
(Vieram por barcos, e o duque de Bragança terá vindo pela região do Ribatejo com imensas tropas.)
Pensa-se que foram assassinados entre 2000 a 4000 cristãos-novos.
Cemitério Judaico
O cemitério estaria situado fora da zona habitável, e numa localização que procurasse evitar a ocorrência de prolongados cortejos fúnebres através do bairro cristão. Sabe-se que os judeus da localidade de Sacavém e do Tojal, vinham enterrar os seus entes queridos a Lisboa.
Também Almada dependia desta cidade para o enterramento dos seus mortos.
O cemitério ficaria na área onde actualmente está situado o Elevador de Santa Justa.
Em 1502, o rei D. Manuel troca de propriedade a que pertencia a extinta sinagoga central da judiaria grande, bem como a igreja da senhora da Conceição, entretanto edificada no espaço ocupado anteriormente pelo templo judaico, pelo terreno que o rei português considerava óptimo para construção de um mosteiro junto ao mar, em Belém. Ali se encontrava uma pequena ermida pertencente à Ordem de Cristo.
Hospital de Todos os Santos
O Rossio, numa gravura do século XVI.
O Hospital Real de Todos os Santos está localizado à direita.
O Hospital Real de Todos os Santos está localizado à direita.
Rossio e Hospital Real de Todos-os-Santos
Painel de azulejos de oficina de Lisboa, da 1ª metade do século XVIII , existente no Museu da Cidade, Lisboa.
Para as obras deste hospital, reverteram as lápides que se encontravam no cemitério judaico, localizado numa zona mais afastada do centro, mais concretamente em Santa Justa, e cujo o terreno foi doado ao concelho de Lisboa, no ano de 1497, a fim de ser utilizado como pasto para o gado.
Os bens das sinagogas e das judiarias após o decreto de expulsão, foram utilizados para sustentar as obras deste enorme hospital.
Tinha 3 pisos, o inferior para doentes mentais e os expostos, (crianças abandonadas). O piso térreo para alojamento do pessoal e o superior para as enfermarias.
Foi construído entre 1492 e 1504.
O palácio dos Estaus
Maquete do que seria este palácio durante a idade média.
Museu da Cidade.
Foi mandado construir pelo regente D. Pedro em 1449. A partir de 1544, o rei D. João III manda ali colocar o Tribunal da Inquisição.
Hoje é o Teatro D. Maria II.
Igreja e convento de S. Domingos
Convento de S. Domingos e Hospital de Todos-os-Santos em 3D - Museu da Cidade de Lisboa.
Foi erigida em 1241, sofreu danos enormes em 1755, e em Agosto de 1959, um violento incêndio destruiu por completo a decoração interior da igreja.
Está sobretudo ligado ao massacre de cristãos-novos em 1506.
Neste local, no ano de 1497, centenas de milhares de judeus que aguardavam o embarque para outras paragens, devido ao decreto, foram forçados a converterem-se ao catolicismo, muitos deles arrastados pelos cabelos e barbas até à pia baptismal.
Também no seu interior foram realizados processos de autos de fé.
Os sambenitos ou o tabardo penitencial, eram expostos no interior da igreja, revelando assim as suas origens familiares e o respectivo acto de acusação.
Condenados com os sambenitos.
A Judiaria Nova ou Pequena, começou a ser construída talvez em época anterior ao rei D. Dinis, na zona da sapataria ou Teracenas, em pleno local de construção naval.
Quando os judeus tiveram de abandonar o "Bairro da Pedreira", foram-se estabelecer em 1317 nas proximidades da actual rua de S. Julião.
Rua de São Julião
Fotografia retirada de www.skyscrapercity.com
Tanto a judiaria grande como a pequena, estavam amuralhadas desde o reinado de D. Fernando. Destruídas em grande parte pelo exército de Henrique de Castela em 1373, tendo depois D. Fernando cercado com muralhas toda aquela área.
A extinção da judiaria nova, veio contribuir para a reestruturação do sector mais ocidental da Ribeira. Com efeito, as Teracenas velhas e suas respectivas torres foram sacrificadas para a construção do novo Paço da Ribeira, que até ao terramoto de 1755, foi a mais importante residência real. As casas anteriormente habitadas por judeus, foram derrubadas para permitir a construção da nova "Casa da Moeda".
Por determinação régia de 1500, todos os cristãos-novos de Tomar, Torres Novas, Santarém, Óbidos, Setúbal, Alcácer do Sal e região do Ribatejo, foram obrigados a dar contribuição monetária para a construção do novo cais de Lisboa.
Judiaria de Alfama ou Judiaria da Torre de S. Pedro
Chafariz da Rua da Judiaria, Alfama, Lisboa.
Foto da LisbonLux. com. blog.
Teve uma sinagoga que foi construída entre 1373 e 1374, como consta de uma sentença de D. Fernando. Os judeus por a terem edificado sem consentimento régio, foram condenados ao pagamento de 50 libras de ouro, com proibição de exercer culto dentro da mesma.
Esta judiaria foi fundada após a trágica investida das hostes castelhanas aos bairros judeus, em 1373.
Alfama escapou à destruição de 1755.
O engenheiro António Vieira da Silva, descobriu um documento na Torre do Tombo, onde identificou a dita sinagoga no largo de S. Rafael, (Beco das Barrelas) nº 8, onde destacava: "...Quatro casas sobradadas".
O Dr. Chaim Weizman, o primeiro presidente do estado de Israel esteve aqui em 1940.
Este bairro judeu começou a povoar-se junto à cerca moura. Os judeus trabalhavam sobretudo na construção de barcos e na alfândega.
No lugar da "Pedreira", onde actualmente se situa o Largo do Carmo e suas imediações, existiu uma outra judiaria. Foi extinta em 1317, quando o rei D. Dinis doou essas casas ao almirante genovês Pessanha. Este almirante foi contratado pelo rei para organizar a marinha portuguesa, recebendo mais tarde os regadios de Frielas, Unhos e Sacavém.
Teve sinagoga, construída em 1260, a mais antiga que se tenha conhecimento na cidade de Lisboa.
Largo do Carmo.
Foto retirada da www.lisboa365.com
Fogueiras no Terreiro do Paço. Ilustração do séc. XVII.
(Em primeiro plano o Paço Real).
Em 1511, o rei D. Manuel transferiu a sua residência do Castelo de S. Jorge para este lugar, junto ao rio Tejo.
Este palácio bem como a sua biblioteca com 70 mil volumes, foram completamente destruídos em 1755.
A 20 de Setembro de 1540, foi realizado o primeiro auto de fé (por execução na fogueira), no Terreiro do Paço.
Também nesse ano é dado início à censura e chegam os primeiros jesuítas a Portugal.
Fontes: http://pt.wikipedia.org/
http://triplov.com/letras/Joao_Sousa/mouros-e-judeus/index.htm
http://www.aast.ipt.pt/
http://aoescorrerdapena.blogspot.pt/2007/08/lisboa-judiarias.html
www.visitlisboa
http://www.elsentoine.com/