Zacuto Lusitano, nascido em 1575 na cidade de Lisboa foi um dos médicos mais marcantes da sua época. Proveniente de família judaica, pouco se sabe em relação aos seus pais. Pensa-se que o seu pai terá sido Diogo Zacuto e sua mãe Esther Zacuto, nascida em Amesterdão. Apesar de ter vivido em Portugal grande parte da sua vida, 50 anos, Zacuto Lusitano tornou-se célebre principalmente pelo tempo em que viveu fora do país.
"(...) A gravura de Claude Audran dá conta da sua qualidade de Lusitano, de que nunca abdicou e lhe ficou no nome, referindo-se ele sempre aos Portugueses como Lusitani nostri (...).” Eduardo Lourenço
Estudou humanidades no Colégio de Santo Antão, em Lisboa, e mais tarde, filosofia e medicina em Coimbra e Salamanca. Após a morte do seu pai, mudou-se para a Universidade de Siguenza, em Espanha, que embora menos conceituada seria mais acessível às suas possibilidades financeiras, e onde se doutorou por volta de 1594.
De regresso a Portugal, onde era conhecido como Manuel Alvares de Távora de forma a camuflar a sua origem judaica perante a Inquisição, foi obrigado a exercer medicina juntamente com outro médico em Coimbra durante dois anos para obter a sua licença médica e, ainda, a realizar o exame de habilitação perante o Físico-mor do Reino, uma vez que tinha frequentado uma Universidade estrangeira.
Por receio às perseguições da Inquisição, deslocou-se para Lisboa, onde se dedicou às vítimas da peste que devastou Portugal em 1598. Foi nesta época que adquiriu o prestígio que lhe permitiu a prática da clínica ilustre e remunerada. Mas, os tempos que se avizinhavam não eram de bonança para este ilustre clínico. Ainda temendo as acções da Inquisição, retirou-se, por volta de 1625, para Espanha e, depois, Amesterdão onde residiu até à sua morte acompanhado da sua esposa e dos seus filhos. Aí, finalmente, desenvolveu um notável trabalho, na prática da medicina e no estudo da sua história, atraindo clientela e firmando a sua reputação, tanto pelo seu saber como pela sua felicidade no tratamento dos doentes. Das suas obras salientam-se De Medicorum Principium Historia (1629-1642), que reúne as observações de grandes médicos da antiguidade às quais Zacuto acrescentou comentários e casos da sua prática clínica e De Praxi Medica Admiranda (1634) que agrega uma colecção de observações notáveis, na maioria colhidas por ele próprio, e algumas delas fornecidas por outros médicos. Foi neste local, também, que Zacuto se circuncidou a ele próprio e adoptou o nome de Abraão Zacuto, ao qual acrescentou Lusitano como referência à sua pátria.
Apesar de ter vivido numa época em que a perseguição e a humilhação dos judeus eram uma constante, este nobre e inteligentíssimo médico conseguiu enaltecer-se nos vários locais por onde foi passando e realizou várias actividades significativas. Interessou-se pelas propriedades de plantas exóticas, indicando o maracujá do Brasil como um dos frutos com qualidades curativas, do mesmo modo, exaltou as virtudes do cacau e do chocolate. Tratou magistralmente, ao longo da sua vida, e de igual forma, pobres e ricos. Foi convidado para assistir a uma autópsia, que era caracterizada, naquele tempo como um acontecimento de “Grande festividade...”, visto ser um acto raro que ocorria nos laboratórios de dissecação da Holanda. Conheceu praticamente os trabalhos de todos os médicos holandeses, os quais rotulou de eruditíssimos, doutíssimos e brilhantíssimos.
Texto de Ana Catarina Mateus, Ana Mendes, Alissa Tavares, Liane Moreira
Via: http://medicosportugueses.blogs.sapo.pt/