Aquele único exemplo
de fortaleza heróica e de ousadia,
que mereceu, no templo
da eternidade, ter perpétuo dia
o grão filho de Thétis, que dez anos
flagelo foi dos míseros Troianos;
não menos ensinado
foi nas ervas e médica notícia
que destro e costumado
no soberbo exercício da milícia:
assi qu’as mãos que a tantos morte deram,
também a muitos vida dar puderam.
(...)
O fruto daquella Orta onde florecem
Prantas novas, que os doutos não conhecem.
Olhai que em vossos annos
Produze huma Orta insigne varias ervas
Nos campos lusitanos,
As quaes, aquellas doutas protervas
Medea e Circe nunca conheceram,
Posto que as leis da Magica excederam.
Excerto do poema «Aquele único exemplo», Ode VIII, de Camões ao Conde de Redondo, Vice-Rei da Índia. O poema é uma homenagem ao livro de Garcia da Orta "Colóquios dos Simples e Drogas e Cousas Medicinais da India, e assi dalgumas frutas achadas nella, onde se tratam algumas cousas tocantes a medicina prática, e outras cousas boas pera saber".
O ilustre judeu português Garcia d`Orta, natural da Vila de Castelo de Vide, é hoje considerado como um dos pais do método científico e consequentemente um dos precursores da ciência moderna.