Nem édito nem alma do avesso.
Revogo a minha própria negação.
Quinhentos anos depois peço
...
perdão.
Sou esse Portugal que não voltou
e guardo ainda a chave e a raiz.
Eu sou quem a si mesmo se expulsou
sou o país que falta ao meu país.
Eu português que sou esse outro eu
que me tiraram há quinhentos anos.
Sou a parte de mim que se perdeu
eu sou eu mesmo todos os marranos
Sou a parte de mim que falta e dói
sou a parte de mim de mim distante
sou cada cristão-novo que se foi
eu sou eu mesmo esse judeu errante.
30 Anos de Poesia, de Manuel Alegre,
2ª edição aumentada: Publicações Dom Quixote, 1997 - pág. 741]
(Enviado por António Coelho)