segunda-feira, 5 de março de 2012

Cemitério no Funchal em ruínas devido ao desinteresse da comunidade judaica e Embaixada de Israel







O vereador da Câmara do Funchal Costa Neves criticou o "desinteresse" da comunidade judaica e da Embaixada de Israel pelo cemitério dos judeus naquela cidade, que "está votado ao abandono e em ruínas".
O cemitério, "propriedade privada, está situado no topo de uma falésia na rua do Lazareto, que tem vindo a ruir, pelo que algumas campas caíram mesmo no 'calhau' [praia de pedra rolada no fundo da falésia]", disse à Lusa o autarca.
Costa Neves referiu que, devido à situação de degradação, foram feitos contactos com responsáveis judaicos e foi apresentada uma proposta para a trasladação do espólio do cemitério para um espaço num outro no Funchal.
Foi mesmo "disponibilizada uma área de 466 metros quadrados [superior aos 315 actuais] no cemitério de S. Martinho, onde foram plantados árvores, arbustos e uma sebe verde para isolar a área e conferir-lhe alguma dignidade", referiu.
O autarca realça o "valor histórico daquele espólio do Funchal", argumentando que o projecto visava "prestar uma homenagem a pessoas que residiram na Madeira e encontraram no Funchal um porto de acolhimento" e realçando que a câmara "até se mostrou disponível para transferir o actual portão do cemitério, que tem um brasão, para essa nova ala".
Costa Neves diz que vários elementos da comunidade judaica, desde responsáveis da embaixada a um rabino, estiveram na Madeira para tratar do assunto, "constataram o estado de degradação do actual cemitério e visitaram o espaço no de S. Martinho".
"Argumentaram que não gostavam da hipótese de serem visíveis as cruzes do cemitério daquela área, tendo sido proposto colocar uma sebe a toda a volta", e referiram também problemas de índole de tradição religiosa, porque uma trasladação implicaria "um funeral de raiz", apontou o vereador.
"Não houve entendimento. Demos um prazo para a cedência e ocupação da área no cemitério de S. Martinho. Como não nos contactaram e temos fala de espaço, aquela área agora já foi ocupada", sublinhou.
Por isso, Costa Neves diz que o projecto "não avançou devido ao desinteresse da comunidade judaica e da Embaixada de Israel", considerando que "é pena, porque o cemitério dos judeus é um marco histórico que se perde".
Aponta que se verificou uma alteração no corpo diplomático de Israel em Portugal, "mas até agora não contactaram a câmara municipal".
Em Janeiro de 2008, o então secretário da embaixada israelita em Portugal, Amir Sagie, garantiu que "dentro de meses arrancaria o processo de trasladação de todo o espólio daquele cemitério", admitindo que os principais problemas da operação se relacionavam com a necessidade de deslocação de um rabi à Madeira para a cerimónia e de encontrar fundos para custear o processo.
No cemitério dos judeus, classificado, desde 1993, como Património Cultural da Região Autónoma da Madeira, foram sepultadas cerca de 30 pessoas e não se realizam funerais há aproximadamente três décadas, dado que a comunidade judaica não tem expressão na Madeira, afirmou Costa Neves.
A porta deste cemitério tem a data 1851 e, segundo os dados históricos disponíveis, o primeiro funeral aconteceu no início da década de 1850, provavelmente, a mãe de José de Abudarham.



File:Cemitério Judaico, Funchal, Madeira, Portugal.jpg


O cemitério judaico é composto por 34 campas. 


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