A Comunidade Judaica de Óbidos
No primeiro século da era cristã, o escritor romano, Plínio, refere a existência de uma cidade entre Lisboa (Olissipo) e Leiria (Colippo), à qual chamou "Eburobrittium". Muitos autores tentaram encontrar esta cidade perto de Óbidos, mas foi apenas em 1995 que a antiga cidade romana foi descoberta a 1200 metros, Nordeste de Óbidos. A cidade romana foi, provavelmente construída sobre uma cidade celta do século III a.e.c. Depois da ocupação romana segue-se um período de dois séculos de ocupação visigótica e depois, no século VIII, a ocupação moura. A 10 de Janeiro de 1148, o rei Afonso Henriques toma a vila aos mouros. Em 1195 o mesmo monarca concede privilégios à vila.
A população cristã instalou-se dentro das muralhas do castelo e o rei autorizou a população árabe a viver fora das muralhas ao longo da colina situada a Oeste do castelo, dando origem a um bairro árabe - a Mouraria. À medida que as muralhas foram alargadas, os mouros deixaram a Mouraria e instalaram-se mais abaixo da colina, como agricultores. Não sabemos exactamente quando a primeira comunidade judaica se instalou em Óbidos, mas existe uma referência em 1333 à sinagoga, o que nos permite concluir que já existia uma comunidade judaica organizada.
Embora a comunidade cristã e judaica vivessem separadas, Óbidos pode ser considerado um caso incaracterístico. Entre 1372 e 1375 vemos nomes como um tal Isaac Freire e Josepe Freire arrendando casas na Rua Direita, e vivendo lado a lado com os cristãos. A sinagoga localizava-se na antiga Mouraria, que era agora o bairro judeu ou Judiaria, dando origem a uma nova rua - Rua da Judiaria.
Até 1942, ano do édito espanhol, não existe pressão demográfica sobre a Judiaria , mas ao longo dos século XV podemos encontrar nomes como Samuel Levi, locatário, Nicim Vacaril, ferreiro, Moisés Altaraz, alfaiate, Isaac Altaraz, alfaiate, Abraão Nafez, tecelão, José Benjamim, ferreiro, Abraão Touro, sapateiro, José Gabai, locatário, José Picoro, sapateiro, Judas Neemias, tecelão, Haim, locatário, Beiçudo, locatário, Jacob Batisolha, Abraão Levi, Salomão Abeacar. Em 1482 o rabino arrenda a sua casa às autoridades eclesiásticas, situando-se esta, entre duas igrejas.
Embora fossem quase todos artesãos, encontramos um Abraão Velido, o único judeu a possuir terras perto do rio, ao logo da colina oeste, que ele utilizava para produzir vinho, provavelmente para comercializar.
Apesar de encontrarmos alguns judeus como locatários, e outros a trabalhar para o rei, a comunidade judaica de Óbidos não era rica. Não fosse a diferença religiosa, a população judaica dificilmente seria diferenciada da população cristã.
Após o édito de expulsão de Dom Manuel I, e o baptismo forçado de muitos judeus, começou a fazer-se a distinção entre cristão-novos (judeus ou mouros forçados ao baptismo) e cristãos-velhos. O bairro judeu ou Rua da Judiaria passa a chamar-se Rua Nova, Contudo, muitos nomes de pessoas nesta rua são pouco comuns quando comparados com os nomes dos cristãos-velhos. Encontramos um Simão Fialho, Pero Fialho, Manuel do Quintal, Álvaro e Martim Vadilho, Manuel Frazão e Simão Fernandes. Estes são alguns dos cristãos-novos que viviam lado a lado com os cristãos-velhos da Rua Nova.
(Texto enviado pelo amigo Gonçalo Vidal)