sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Oração de um cripto-judeu português no século XVII




”Alto Senhor de Israel,
Deus eterno, onipotente,
Escute as sentidas queixas
De teu povo descontente.


Aplaquem-se as justas iras
Da Majestade ofendida
De novo sentiremos a graça
Há muito tempo perdida.

Juiz de toda a terra,
Deus augusto e poderoso
A teu povo suplicante
Ouvido presta piedoso.

Quebra, Senhor, este jugo,
Que nos pesa desumano,
Libera-nos, Senhor, libera-nos
Das garras deste tirano.

Há três anos que teu povo
Em ferros geme e suspira
Bastem os males passados
Aplaque-se Tua ira.

Nossas culpas são imensas
Nossos delitos pesados
Mas Tua misericórdia
É maior que nossos pecados.

Libertaste-nos de um Faraó.
Por santo prodígio novo,
De outro Faraó mais duro
Outra vez liberta Teu povo.

O poder deste malvado,
Que nos oprime sem dó,
Cairá, bem como caíram,
Os muros de Jericó.

Teu povo, naquele tempo,
Mil vezes, Senhor, pecou,
Mas Tua clemência
Mil vezes o perdoou.

Se te ofendemos, Senhor,
Sobre nós caia o castigo,
Mas nos venha de Tuas mãos
E não de nosso inimigo.

A Tua voz formidável,
Quebre os duros grilhões
Hoje, porque é Teu dia,
Deve ser dos perdões.

Para nós é a ventura
Para Ti, Senhor, a glória,
Que Teu dia sacrossanto
Seja o dia da vitória.





Prece para Yom Kipur, escrita em ladino, e posteriormente traduzida para o português.


Fonte: "Los criptojudios" (pp. 247-249), de Boleslao Lewin, Buenos Aires, ano - 1987. 

Tradução feita por Jane Bichmacher de Glasman