sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Figuras e factos


Salomão Molcho






Assinatura de Salomão Molcho.




Salomão Molcho ou Molkho (1500 – 1532), nasceu em Lisboa e começou por se chamar Diogo Pires, era cristão-novo e exerceu a profissão de escrivão da Casa da Suplicação durante o reinado de D. João III, (O Piedoso).
Diogo Pires regressa à fé dos seus antepassados após conhecer um judeu de nome David Reubeni *, um indivíduo algo misterioso que se intitulava príncipe dos judeus da Árabia. Este encontro ocorrido entre os dois parece ter sido frio e distante por parte de Reubeni em relação ao nosso Diogo Pires, mas o facto é que Reubeni impressionou este jovem português, que decide fazer a circuncisão nele próprio, deixando-o às portas da morte. Passado este percalço, o retorno ao judaísmo e a mudança do seu nome era um facto consumado e definitivo, passará daí a diante a chamar-se Salomão Molcho.





David Reubeni, ilustração de Arthur Szyk.



Molcho tem 24 anos e quer viver novas experiências e compensar os anos perdidos, decide então sair de Portugal e dedica-se ao estudo da Torá e demais textos rabínicos, tornar-se-á num homem místico e seguidor da Cabala.
Fez a sua peregrinação pessoal pelos locais da Europa, onde viviam comunidades sefarditas de origem portuguesa e espanhola, em 1529 chegou a publicar sermões em hebraico,  anunciando a vinda do Messias no ano de 1540.
Vai à Turquia e à Palestina, onde visita a cidade santa de Safed  (Galileia), causando aí uma excelente impressão entre os locais.
Regressa a Itália, e misteriosamente “acerta” na previsão da cheia do rio Tibre em Roma, a 8 de Outubro de 1530. Sua fama é enorme, judeus e conversos vêem nele um salvador das suas atribuladas vidas, mas a má sorte surge como uma sombra negra, Salomão Molcho é detido pelas autoridades religiosas italianas, é julgado por conversão ao judaísmo e condenado à morte. Dão-lhe a oportunidade de poupar a sua vida se Molcho regressar ao catolicismo. Com uma coragem e uma convicção admirável diz não, e morre como judeu na fogueira em 1532 na cidade de Mântua, norte de Itália.
Ficou dessa época a tradição em Safed, que todos as sextas-feiras o espírito de Molcho aparecia alegre e bem disposto, partilhando com todos os presentes a vinda do Shabat.



* David Reubeni chegou a ser recebido pelo papa Clemente VII em 1524, e pelo rei português D. João III em Almeirim no ano seguinte.
A proposta de Reubeni juntamente com Molcho, era esta:
Os soberanos peninsulares com o apoio do Vaticano, forneceriam armas e logística aos milhares de cristãos-novos de Portugal e Espanha, comprometendo-se estes em libertar a Terra Santa do domínio muçulmano, em troca, este exército de “conversos” exigia o livre retorno ao judaísmo e ficar na terra prometida, livres de perseguições.
D.João III fica inicialmente fascinado com a proposta, desta forma via-se livre dos muitos milhares de cristãos-novos do reino, mas pensou melhor, e desconfiado de ver no futuro um exército hostil e com contas a ajustar, tirou o tapete, e este projecto tremendamente audaz acabou por não se concretizar.
Reubeni acaba por ser preso em 1538, e será executado em Espanha em Setembro desse mesmo ano.