Hoje, dedico este texto a um famoso e prestigiado cristão-novo nascido em Mogadouro - Trás-os-Montes, no ano de 1539 e de seu nome Luís de Carvalhal (O Velho), que em Espanha adoptou o nome de Luís de Carvajal y de La Cueva.
Cedo foi marcado pela tragédia pessoal, ficando órfão aos oito anos de idade, é então criado por um familiar próximo. Entre os 18 e os 20 anos, Luís de Carvalhal terá ido para o arquipélago de Cabo Verde, servindo a coroa portuguesa como tesoureiro durante treze anos, onde saiu depois para Espanha.
Lá se casou em 1564 em Sevilha. Já mais tarde com problemas financeiros e pessoais, ele é obrigado a investir num barco próprio, fez amigos e notabilizou-se o suficiente para que tenha sido notado, ao ponto de lhe confiarem o comando como adjunto de uma frota, que conduziu o novo Vice-rei ao México.
Durante a atribulada viagem entram em combate com piratas, ganhando a contenda aos mesmos. No espólio do barco capturado, encontraram um tesouro a que remeteram ao rei Filipe II de Espanha, I de Portugal.
Já em terras mexicanas, o Vice-rei nomeou-o comandante do porto de Tampico, saindo em 1568 vencedor de vários ataques levados a efeito por piratas ingleses e holandeses. Luís de Carvalhal ou Carvajal, não era um menino de coro, quando este fazia prisioneiros protestantes era impiedoso, remetendo-os de seguida à Inquisição local.
Entre 1568 e 1578, este homem de armas e aventureiro, ajudou ao povoamento de longas e várias extensões de território da América Central, protegendo os colonos espanhóis e subjugando as populações índias.
Perante estes enormes "feitos", a Espanha compensou-o com um reconhecimento real, e em 1578 regressou a Espanha, sendo no país vizinho agraciado com honrarias e com o direito de se auto-titular governador das terras, que ocupasse na América.
Mas nada é seguro e definitivo nesta vida, sua esposa (também ela cristã-nova e de origem portuguesa) e demais familiares, pedem a Luís que não regressasse ao Novo Continente, e sim os acompanhasse até à Turquia, país já com uma comunidade sefardita portuguesa bastante importante, a intenção era de se protegerem de possíveis denúncias que pudessem ser alvo no futuro.
Luís recusa peremptoriamente, argumentando que tendo ele uma posição poderosa no México, nada de mal lhe podia acontecer a ele e aos seus.
No México conseguiu obter autorização para que famílias espanholas e portuguesas viessem povoar os novos territórios, sendo que a maior parte desse colonos eram cripto-judeus.
Sempre atentos, desconfiados e quase sempre conspirativos, os clérigos espanhóis forçaram o Vice-rei em 1590 a prendê-lo, a denúncia partiu do frade Juan de la Magdalena. Luís, embora soldado leal à coroa, era perante o Santo Ofício uma personagem incómoda, cristão-novo e estrangeiro, tratava-se pois de uma combinação perigosa para os interesses da santa igreja e de Espanha.
Nas masmorras tentaram que ele denuncia-se amigos e parentes, mas nada feito, embora Luís de Carvalhal fosse um católico aparentemente devoto, não traiu o seu sangue nem o da sua família: por isso foi torturado e deixado morrer na prisão. Faleceu em 1595.
Infelizmente, o seu acto de abnegação de nada valeu aos seus familiares, alguns deles foram executados pelo fogo, num auto-de-fé realizado a 8 de Dezembro 1596, na cidade do México.